O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, durante sua participação no WW Especial, destacou que a desordem global vista nos últimos anos é resultado não apenas dos riscos, mas sobretudo da incerteza.
Ao discutir a obra recente sobre a biografia intelectual de Henry Kissinger, Lafer mencionou a perspectiva dos realistas nas relações internacionais, que tendem a assumir a inevitabilidade da tragédia. Ele explicou que essa visão foi moldada pelas experiências do século XX, como o nazismo e a Segunda Guerra Mundial.
A dinâmica entre diplomacia e força
Lafer ressaltou a distinção feita por Aaron entre o diplomata e o soldado no campo das relações internacionais. “O diplomata é aquele que procura alternativas ao uso da força no plano internacional”, explicou o ex-ministro, contrastando com o soldado, que representa o uso da força.
O especialista apontou que a reflexão estratégica pós-Segunda Guerra Mundial baseou-se em cálculos de racionalidade, especialmente no contexto da dissuasão nuclear. No entanto, Lafer alerta que os conflitos atuais, como na Ucrânia e no Oriente Médio, desafiam essa lógica de previsibilidade.
Novos desafios e incertezas
“A guerra é um camaleão, assume sempre novas formas, e evidentemente nós estamos diante do uso da força com novas formas”, afirmou Lafer, destacando a dificuldade em avaliar a racionalidade da reflexão estratégica nos cenários atuais.
O ex-ministro fez uma distinção entre risco e incerteza, termos comumente usados em economia. Enquanto o risco pode ser mensurado e calculado, a incerteza surge quando essa mensurabilidade escapa. “A desordem hoje é uma que resulta não apenas dos riscos, mas sobretudo da incerteza”, concluiu Lafer.