Desde que Edmundo González teve um mandado de prisão emitido contra ele, o advogado venezuelano José Vicente Haro, virou a voz do candidato opositor para meios de comunicação da Venezuela e do exterior.
Também foi Haro quem compareceu ao Ministério Público para tentar expor ao procurador-geral do país, Tarek William Saab, as razões legais para o não comparecimento de seu cliente às três intimações feitas pelo órgão, que o investigava pela publicação de um site com atas que atribuíam a ele a vitória nas eleições presidenciais de 28 de julho.
Quando, na última sexta-feira (6), policiais e agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência rodearam a embaixada da Argentina em Caracas, que está sendo custodiada pelo Brasil, Haro permaneceu em contato com o opositor.
Em entrevista à CNN, o advogado de 50 anos conta que nas ligações com o candidato, era perceptível a sensação de abalo de González diante do que acontecia, o temor de que o mesmo acontecesse com a sede diplomática da Espanha, onde ele estava asilado, e como a situação foi mudando a postura do opositor quanto à possibilidade de deixar seu país.
“Ele tomou uma decisão que não queria tomar”, garante Haro, relatando o que descreveu como “um drama humano” a situação vivida por González naquelas horas.
Ainda não se sabe ao certo como foram as negociações para que o candidato opositor finalmente conseguisse o salvo-conduto para sair da Venezuela rumo à Espanha. Nicolás Maduro chegou a afirmar que conduziu pessoalmente o processo, e que se reservará no direito de segredo de Estado informações sobre o ocorrido, porém que se ser necessário, as revelará.
Haro, por sua vez, diz que os detalhes das negociações de um asilo têm caráter confidencial, mas relata à CNN que foi durante o cerco à embaixada Argentina, com o temor por sua vida, e após “pressões” de altos funcionários do governo venezuelano que o opositor finalmente decidiu deixar o país com sua esposa.
Agora em Madri, González se reuniu com o primeiro-ministro Pedro Sanchéz na quinta-feira (12), e segundo Haro, houve o comprometimento do governo espanhol de formalizá-lo rapidamente como asilado político, o que já deve ocorrer na segunda (16) ou terça (17) da semana que vem.
Confira trechos do relato:
CNN: Como Edmundo González viveu as horas de cerco à embaixada argentina?
JVH: Quando estavam assediando e ameaçando com funcionários do Estado, policiais de inteligência, armados, de entrar na embaixada da República Argentina. Paralelamente González Urrutia, que estava na embaixada da Espanha, me comunicou que eram momentos de emergência, que ele iria ter que considerar o ele não tinha considerado, que tinha rejeitado até o momento, que era ir embora do país. Ele queria se manter na Venezuela, sua vontade era ficar em território nacional. Então ele me disse: vou ter que pensar. Nós voltamos a nos falar no sábado de manhã (7), às 6h da manhã aproximadamente, e ele ainda estava pensando, diante de todas as pressões que estava recebendo. Essas pressões vinham de altos funcionários do Estado. Pressões e situações que o puseram em perigo, e que o levou a tomar essa decisão para preservar sua vida, sua liberdade e sua segurança pessoal.
CNN: O presidente Nicolás Maduro menciona que vai revelar segredos de Estado sobre a negociação para o salvo-conduto de Edmundo González. Há realmente coisas que não podemos saber dessas negociações?
JVH: Se ele diz que vai revelar esses segredos de Estado, ele terá que explicar e prestar conta de tudo isso que aconteceu, e comprometeria não somente o governo como o governo do Reino da Espanha. Nos colocaria em uma situação muito delicada, porque estamos falando de assuntos que aconteceram em uma sede diplomática. E todos os assuntos relativos a situações que levam a asilo e refúgio são de completa confidencialidade. O salvo-conduto de Edmundo González foi concedido sob pressão, sob coação. Era uma situação em que ele estava vivendo um drama humano, que era muito perceptível. Eu percebia nas chamadas de vídeo que tive como ele na sexta de noite e no sábado pela manhã, uma decomposição, uma situação de emergência, em que ele via sua vontade se quebrando, e tomou uma decisão que não queria tomar.
CNN: Este temor do Edmundo, que o senhor disse que viu sua vontade sendo quebrada. O medo dele era de que invadissem a embaixada onde ele estava?
JVH: Ele, como uma pessoa que durante toda sua vida prestou funções para o serviço diplomático venezuelano, um embaixador honrado, com um currículo inquestionável, e conhecimento próprio do que é a proteção que deve se dar para uma embaixada, via como muito grave o que estava acontecendo na embaixada da República Argentina. Ele tinha e todos tínhamos o temor de que algo assim pudesse acontecer na sede diplomática do Reino da Espanha ou em qualquer sede diplomática em que ele estivesse. E esse grau de pressão o levou ao instinto mais básico do ser humano, de conservação de sua vida e de sua liberdade.