Na audiência de custódia de Benedito Anunciação Santana, de 40 anos, suspeito de ser o mandante do feminicídio da enteada Heloysa Maria de Alencastro Souza, de 16 anos, o promotor de Justiça Reinaldo Rodrigues de Oliveira Filho fez um desabafo emocionado e contundente.
O Primeira Página teve acesso ao vídeo de trecho da audiência, em que o promotor repreende duramente os quatro acusados pela morte brutal da adolescente. Veja abaixo:
“Quatro marmanjos. Quatro marmanjos. Quatro marmanjos. Certamente não vieram da lua, vieram do ventre de uma mulher. Deveriam respeitar uma mulher e o ser humano. Na condição de mulher que era aquela menina, morreu sem saber”, afirmou o promotor.
Ainda durante a audiência, ele completou: “O que fizeram com essa jovem jogada no poço não se faz nem com qualquer ser vivo, ainda mais com um ser humano.”
Prisão em flagrante e decisão da Justiça
Benedito Anunciação Santana e seu filho, Gustavo Benedito Júnior, de 18 anos, foram presos em flagrante após serem apontados por dois adolescentes, de 16 e 17 anos, como os autores intelectuais e executores do crime.
Ambos tiveram a prisão mantida após a audiência de custódia, com a Justiça considerando a gravidade dos fatos, o risco à ordem pública e a necessidade de garantir a continuidade das investigações.
Crime premeditado e simulação de assalto
De acordo com a Polícia Civil, o crime foi planejado por Benedito e executado com o auxílio direto do filho e de dois adolescentes. Heloysa foi morta por estrangulamento com um cabo de celular e teve o corpo jogado em um poço com cerca de nove metros de profundidade, em uma área de mata no bairro Ribeirão do Lipa, em Cuiabá.
A investigação aponta que os suspeitos simularam um assalto para disfarçar o homicídio. Além de Heloysa, a mãe da adolescente também foi agredida, mas sobreviveu. Segundo o delegado Guilherme Bertoli, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), uma amiga da família, que estava no local com um bebê no colo, também seria alvo, mas foi poupada.
“O próprio Benedito deixou os comparsas na porta da casa e coordenou a ação. Eles sabiam que Heloysa seria morta”, destacou o delegado.
Sinais de violência sexual
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) confirmou que a adolescente apresentava sinais de violência sexual. A Polícia ainda investiga qual dos envolvidos participou diretamente do abuso. A brutalidade do crime motivou a abertura de inquérito pelos crimes de feminicídio consumado, roubo majorado, ocultação de cadáver e corrupção de menores.
Perfil dos suspeitos e frieza nas declarações
Benedito, que já foi servidor da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Seciteci) e acólito da Catedral Basílica de Cuiabá, possui antecedentes por violência doméstica. Segundo os investigadores, mesmo diante das provas, incluindo a confissão do filho, ele nega envolvimento e tem mantido postura fria durante os depoimentos.
“Há elementos que indicam planejamento, envolvimento direto e reincidência em condutas violentas contra mulheres”, reforçou o delegado Bertoli.
A perícia feita na casa da vítima também é considerada decisiva. Fragmentos de um lençol branco foram encontrados presos em uma cerca de arame farpado próximo ao local onde o corpo foi deixado, indicando que Heloysa foi transportada enrolada no tecido.
