enchentes e calor extremo marcam 2024


As mudanças climáticas já são pauta constantes em discussões internacionais sobre o futuro. Gestores de vários países vêm buscando alternativas para amenizar os impactos causados. Ano após ano, os eventos climáticos mostram que é preciso prestar mais atenção ao meio ambiente.

Retrospectiva de eventos climáticos extremos em 2024. (Foto: Reprodução)

Em 2024 não foi diferente, tragédias climáticas fizeram deste, um dos anos mais desafiadores da história recente do Brasil.

E para te lembrar dos acontecimentos, o Primeira Página reuniu alguns fatos que marcaram o ano e que demonstram a gravidade das condições climáticas no país, veja:

  • Enchentes devastadoras no Rio Grande do Sul: cidades inteiras foram submersas, causando um número significativo de desabrigados e perdas materiais.
  • Incêndios históricos no Pantanal: o bioma mais rico em biodiversidade da América do Sul foi devastado por incêndios de grandes proporções, colocando em risco espécies únicas e comprometendo a qualidade do ar.
  • A maior seca do Pantanal em 70 anos: a falta de chuvas prolongada secou rios e lagoas, impactando a fauna e a flora, além de afetar a vida de comunidades tradicionais.
  • Ondas de calor recordes: o país registrou o dia mais quente dos últimos 113 anos, com temperaturas extremas em diversas regiões.
  • Ar seco como no Saara: a umidade do ar em algumas áreas chegou a níveis críticos, semelhantes aos do Deserto do Saara, colocando a saúde da população em risco.
Cidade alagada no Rio Grande do Sul
Casas, empresas e árvores tomadas por água no Rio Grande do Sul. (Foto: Agência Brasil/Diego Vara)

Enchente no Rio Grande do Sul

Em maio, mais de 345 municípios do Rio Grande do Sul (70% do estado), foram afetados pelas enchentes, causadas pelas fortes chuvas que atingiram a região, causando um impacto na vida de mais de 850 mil pessoas.

A região do Rio Grande do Sul mais afetada pela tragédia foi o Vale do Taquari, que abrange 36 municípios da parte central do estado, totalizando uma área aproximada de 4.826,7 km², de acordo com a FEE (Fundação Econômica e Estatística).

Três fenômenos se somaram para que isso acontecesse: ventos úmidos vindos da região da Amazônia, junto a uma forte frente fria presente no sul, somada a uma área de alta pressão no centro do país, bloquearam a passagem das nuvens, fazendo assim com que elas ficassem estacionadas na região, concentrando toda a chuva na área. Isso faz parte do fenômeno El Niño.

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Carro sendo levado pela enchente na cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul (Foto: Diego Vara/Reuters)

Devido ao volume de chuva muito acima do normal e o solo encharcado, as águas dos rios menores correram para o Rio Taquari, que subiu bruscamente de nível, causando as inundações das cidades que ficam às suas margens.

Outro fator que potencializou a tragédia no Vale Taquari é que as cidades estão construídas em locais chamados planícies de inundação: áreas que se alagam naturalmente com o aumento dos níveis dos rios. Cidades como Muçum, Santa Tereza, Encantado, Roca Sales, Arroio do Meio e Lajeado são exemplos.

Se Cuiabá estivesse localizada em uma área com as mesmas características e o Rio Cuiabá inundasse, a baixada cuiabana composta por Cuiabá, Várzea Grande e partes de Santo Antônio de Leverger e de Nossa Senhora do Livramento, que totalizam uma área de aproximadamente 5.051,6 km² estariam alagadas.

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Fogo atingiu todas as áreas, exceto o leito do rio, onde a umidade impediu o fogo de queimar. (Crédito: Diego Baravelli).

Incêndios florestais

Os incêndios florestais que assolaram Mato Grosso no inverno de 2024 causaram danos irreparáveis. Milhares de quilômetros quadrados de áreas verdes foram consumidos pelas chamas, impactando diretamente os biomas que caracterizam o estado.

A tragédia foi além da destruição ambiental, com 4 pessoas morreram durante o combate às chamas.

De acordo com o BD Queimadas, de janeiro a dezembro a Amazônia teve 25.262 mil focos de calor; o Cerrado registrou 18.916 focos e o Pantanal, 6.340.

A secura extrema, aliada ao fogo, resultou em um cenário devastador. Uma análise do Centro de Vida mostrou que no Pantanal 9% do bioma foi consumido pelo fogo. Confira 6 imagens impressionantes que retratam os incêndios florestais no Pantanal de Mato Grosso.

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Jacaré totalmente queimado no Pantanal de MT. (Crédito: Diego Baravelli).
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Em meio a escassez de água, um boi tenta se hidratar em uma poça de lama.(Crédito: Diego Baravelli)
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A famosa Transpantaneira que corta o Pantanal, completamente seca. É possível ver os caminhos feitos pelos animais em busca de água. (Crédito: Diego Baravelli)
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Um brigadista analisa um lagarto que morreu em meio a falta de água e aos incêndios na região. (Crédito: Diego Baravelli)
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Esqueleto de um animal que não sobreviveu a seca e aos incêndios no Pantanal. (Crédito: Diego Baravelli)

Mesmo em meio ao caos e destruição do fogo, ainda há esperança de que o bioma se recupere. No entanto é papel coletivo preservar a vida.

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Biodiversidade no Pantanal Mato-grossense. (Crédito: Diego Baravelli)

A maior seca do Pantanal em 70 anos

Em setembro, o Brasil enfrentou a pior seca dos últimos 70 anos. Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a estiagem de 2024 supera qualquer outra registrada desde 1950.

Essa grave situação, que afeta diversas regiões do país, foi confirmada por análises do Índice de Precipitação Padronizado de Evapotranspiração, um indicador que avalia o balanço hídrico.

Em agosto, a situação se agravou com 45 municípios classificados em condição de seca extrema e 161 em seca severa, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. A persistência da seca, com mais de 120 dias consecutivos sem chuvas em muitas áreas, impactou também a agricultura, especialmente as culturas de milho e feijão.

Uma cena inusitada e preocupante foi registrada no mês de setembro, em Cáceres. Um homem foi visto dormindo no Rio Paraguai, onde um banco de areia se formou no leito do rio por conta da intensa seca. Veja abaixo:

O vídeo é um reflexo da estiagem severa que atingiu a região de Barra do Bugres e Cáceres, a 220 km de Cuiabá, fazendo o nível do Rio.

Ondas de calor recordes

Segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a temperatura da capital mato-grossense chegou aos 43°C, em setembro, e fez a cidade bater novamente o recorde em 2024.

Idoso com calor
Idosos e crianças são vulneráveis ao calor. (Foto: Reprodução)

Além disso, segundo informação da Agência Climatempo, o recorde anterior era de 42,8°C, que ocorreu em 8 de setembro. Projeções para 2030 e 2050 apontam que, se nada for feito quanto ao aquecimento global, é provável que a região Centro-Oeste registre temperaturas muito extremas.

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Termômetros marcarão máxima de 50º em MT (Foto: Reprodução)

A pesquisadora do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ana Paula Paes, comentou que Mato Grosso pode chegar até 50°C graus em pouco tempo.

Ar seco como no Saara

Em agosto, Cuiabá registrou 8% de umidade relativa do ar. Esse número é inferior à média de 12% registrada no deserto do Saara, que corta 10 países no continente africano. Os números são do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Além da capital, outros municípios mato-grossenses registraram a umidade bem baixa por meses seguidos. Confia a lista:

  • Rondonópolis: 10%
  • Alto Araguaia: 11%
  • Alto Taquari: 11%
  • Rosário Oeste: 11%
  • Campo Verde: 13%
  • Itiquira: 13%
  • São José do Rio Claro: 13%
  • Salto do Céu: 13%

Mato Grosso recebeu diversos alertas de perigo para a onda de calor e de grande perigo para a baixa umidade relativa do ar. Como mostra o mapa abaixo:

Mapa alerta umidade
Mapa mostra regiões do país onde há os alertas para onda de calor e baixa umidade relativa do ar (INMET)

A OMS (Organização Mundial da Saúde) indica que o mínimo ideal seja de 60%. Entre 31% e 40%, o estado é de observação. De 31% a 30%, estado de atenção. Alerta, entre 12% e 20%. Já abaixo de 12%, o estado é de emergência.

Governo federal libera R$ 6,5 bi para enfrentar desastres naturais

Diante da intensificação de eventos climáticos extremos, o governo federal, por meio da Medida Provisória nº 1.282/2024, liberou em 24 de dezembro R$ 6,5 bilhões para o Ministério das Cidades. Os recursos serão utilizados para reconstruir cidades atingidas por enchentes, deslizamentos de terra e outros desastres naturais.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de inauguração do Projeto Cerrado - nova fábrica de celulose da Suzano em Ribas do Rio Pardo (MS) em 5 de dezembro de 2024 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O fundo tem o intuito de ajudar na recuperação de estruturas, como estradas, pontes e prédios públicos, em áreas atingidas por eventos extremos. Mas também será usado para financiar projetos que ajudem a prevenir e se adaptar às mudanças no clima, como a construção de sistemas de drenagem e outras obras para evitar desastres.

De olho no Pantanal

Diante da gravidade dos incêndios e da seca que atingiram a Amazônia e o Pantanal, o governo federal, por meio da Medida Provisória nº 1.281/2024, destinou nesta terça-feira (24), R$ 233,2 milhões para ações de combate e recuperação dessas regiões.

Entre as ações previstas, destaca-se o investimento em sistemas de alerta de estiagem na Amazônia, com o objetivo de prevenir e mitigar os impactos da crise hídrica.

O Ibama receberá R$ 118 milhões do Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) receberá R$ 71,5 milhões para investir em capacitação, equipamentos e tecnologia, visando fortalecer a fiscalização ambiental e combater incêndios.



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