Entenda como o funeral do papa permitiu a conversa entre Trump e Zelensky

CNN Brasil


O presidente dos EUA, Donald Trump, questionou se o presidente russo, Vladimir Putin, deseja um acordo de paz logo após se encontrar com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Vaticano, minutos antes do início do funeral do papa Francisco, neste sábado (26).

O evento marcou o primeiro encontro presencial entre Trump e Zelensky desde a reunião na Casa Branca em fevereiro, quando o presidente dos EUA e outras autoridades americanas criticaram publicamente Zelensky por não ser suficientemente grato pelo apoio americano e suspenderam brevemente o envio de armas e o compartilhamento de informações de inteligência.

Desde então, a Casa Branca tem se esforçado cada vez mais para chegar a um acordo de paz na Ucrânia.

Fotos divulgadas pela presidência ucraniana mostraram os dois líderes reunidos em uma discussão acirrada, sem assessores, nos arredores ornamentados da Basílica de São Pedro.

Encontro entre Volodymyr Zelensky e Donald Trump na Basílica de São Pedro antes do funeral do papa Francisco
Encontro entre Volodymyr Zelensky e Donald Trump na Basílica de São Pedro antes do funeral do papa Francisco • Presidência da Ucrânia

Zelensky agradeceu a Trump pelo “bom encontro” em uma publicação nas redes sociais.

“Discutimos muito individualmente. Esperando resultados em tudo o que abordamos”, escreveu Zelensky.

“Protegendo a vida do nosso povo. Cessar-fogo total e incondicional. Paz confiável e duradoura que impedirá a eclosão de outra guerra. Um encontro muito simbólico com potencial para se tornar histórico, se alcançarmos resultados conjuntos”, ele acrescentou.

Um porta-voz da Casa Branca que acompanhava Trump disse que os dois líderes “se encontraram em particular neste sábado e tiveram uma discussão muito produtiva”. Autoridades tanto da equipe de Zelensky quanto da de Trump disseram que a reunião durou cerca de 15 minutos e que os líderes concordaram em continuar as negociações.

Em uma publicação no Truth Social, enviada ao retornar de Roma após a reunião, Trump levantou a possibilidade de aplicar novas sanções à Rússia após o ataque a Kiev na semana passada, questionando se Putin estaria interessado na paz.

“Não havia motivo para Putin estar disparando mísseis contra áreas civis, cidades e vilas nos últimos dias”, escreveu Trump. “Isso me faz pensar que talvez ele não queira parar a guerra, ele está apenas me incentivando e precisa ser tratado de forma diferente, por meio de ‘Sanções Bancárias’ ou ‘Sanções Secundárias’? Muitas pessoas estão morrendo!!!”, acrescentou.

Como o formato do funeral do papa permitiu a conversa entre Trump e Zelensky

O encontro ocorreu em frente à Capela do Batistério, que fica dentro da Basílica de São Pedro, perto da entrada, e a conversa não havia sido telegrafada com antecedência.

Antes da breve visita do presidente americano a Roma, autoridades minimizaram a possibilidade dele se encontrar com Zelensky ou qualquer outro líder mundial, apontando para o cronograma reduzido da viagem e seu propósito solene de homenagear o falecido papa.

Trump havia inicialmente escolhido a Arábia Saudita para sua primeira parada no exterior em seu novo mandato e visitará o país no próximo mês. Mas, com a morte de Francisco, esses planos mudaram e, em vez disso, Trump fez sua primeira parada no exterior na Europa.

O mapa de assentos e a multidão de outros líderes possibilitaram breves interações, inclusive com líderes que Trump aparentemente vinha evitando desde que assumiu o cargo.

Ele teve um breve encontro com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com quem não havia falado desde que retornou ao cargo em meio a disputas comerciais e de defesa com a União Europeia.

O protocolo de assentos — organizado por nome de país em francês — ditou a posição de Trump ao lado dos líderes estoniano e finlandês, com quem ele interagiu brevemente.

Líderes mundiais no funeral do Papa Francisco na Praça de São Pedro em 26 de abril de 2025 na Cidade do Vaticano. • Dan Kitwood/Getty Images

Em outros casos, Trump trocou gentilezas com outros líderes que vêm trabalhando em esforços paralelos para ajudar a resolver a guerra na Ucrânia. Ele apertou a mão do presidente francês, Emmanuel Macron, durante o sinal de paz da missa fúnebre.

Envolvimento dos EUA nas negociações

Os EUA têm pressionado mais a Ucrânia após ameaçarem, na semana passada, abandonar as negociações “em poucos dias” se ficar claro que um acordo não pode ser alcançado.

Trump disse na sexta-feira (25) que a Rússia e a Ucrânia estão “muito perto de um acordo” que encerraria o conflito, iniciado pela Rússia em 2014 e intensificado com a invasão em larga escala em 2022.

“Um bom dia para conversas e reuniões com a Rússia e a Ucrânia. Eles estão muito perto de um acordo, e os dois lados devem agora se reunir, em altos escalões, para ‘encerrar o conflito’”, escreveu Trump no Truth Social após desembarcar em Roma para o funeral do papa Francisco.

O enviado especial de Trump, Steve Witkoff, se reuniu com o presidente russo, Vladimir Putin, por três horas na sexta-feira, de acordo com o assessor presidencial russo, Yuri Ushakov, que disse que as conversas foram “construtivas e muito úteis”.

Antes de deixar Kiev para Roma na sexta-feira, Zelensky sugeriu uma série de compromissos com o objetivo de avançar nas negociações de paz.

“Estamos prontos para o diálogo, enfatizo novamente, em qualquer formato com qualquer pessoa”, disse ele, mas “somente após um sinal real de que a Rússia está pronta para encerrar a guerra. Tal sinal é um cessar-fogo completo e incondicional”, acrescentou.

Kiev e Moscou não se encontraram diretamente desde as primeiras semanas da invasão de Moscou em fevereiro de 2022. Qualquer conversa direta provavelmente exigiria mais discussões e atrasaria a diplomacia que o governo Trump esperava que produzisse resultados em questão de dias.

Aceitando que a Ucrânia não se juntaria à Otan num futuro próximo, ele disse: “Acho que precisamos ser pragmáticos. Precisamos entender quais garantias de segurança a Ucrânia precisa.”

Zelensky ainda disse que essas garantias podem incluir um contingente militar da Europa e o que ele chamou de “backstop” dos Estados Unidos.

“Para nós, o backstop não precisa necessariamente ser tropas em solo ucraniano”, afirmou Zelensky, mas pode incluir defesa cibernética “e, acima de tudo, sistemas de defesa aérea Patriot”.

Na quinta-feira (24), Kiev foi atingida pela maior onda de ataques com mísseis russos desde julho do ano passado. Doze pessoas morreram.

“Quadro do Acordo com a Ucrânia” ainda enfrenta obstáculos

Zelensky também falou na sexta-feira sobre o que chamou de propostas “construtivas” elaboradas em Londres esta semana entre autoridades ucranianas e europeias.

Uma cópia dessas propostas foi obtida pela Reuters. Intitulada “Quadro do Acordo com a Ucrânia”, ela propõe um cessar-fogo total e incondicional no ar, em terra e no mar, conforme acordado anteriormente pela Ucrânia.

O monitoramento do cessar-fogo seria liderado pelos EUA e apoiado por terceiros países, de acordo com o rascunho obtido pela Reuters. A CNN confirmou seu conteúdo.

O rascunho propunha que a Ucrânia receberia “garantias de segurança robustas, inclusive dos EUA… enquanto não houver consenso entre os Aliados sobre a adesão à Otan”. Essas seriam semelhantes às do Artigo 5 da Otan, segundo o qual todos os integrantes são obrigados a auxiliar uma nação atacada.

Uma parte do rascunho que provavelmente será contestada por Moscou afirma que “os Estados garantidores serão um grupo de países europeus e países não europeus dispostos a fazê-lo”. Não haveria “nenhuma restrição à presença, armas e operações de forças estrangeiras amigas no território da Ucrânia”, nem ao tamanho das forças armadas ucranianas.

O rascunho afirma que as negociações sobre o território começariam após a entrada em vigor do cessar-fogo, e seu ponto de partida seriam as linhas de frente atuais. Mas acrescenta que a Ucrânia retomaria o controle da usina nuclear de Zaporizhzhia, ocupada por forças russas desde março de 2022.

Sobre o acordo proposto sobre minerais entre os EUA e a Ucrânia, que daria aos EUA acesso a bilhões de dólares em metais raros, o rascunho afirma que a Ucrânia será totalmente compensada financeiramente, inclusive por meio de ativos russos que permanecerão congelados até que a Rússia compense os danos causados ​​à Ucrânia.

Moscou também provavelmente se oporá a isso.

O rascunho obtido pela Reuters não menciona especificamente a Crimeia.

O plano de Witkoff propunha que os EUA reconhecessem a Crimeia como parte da Rússia, mas não sugeria que a Ucrânia também precisasse fazê-lo.

Reconhecer o controle russo da Crimeia, anexada ilegalmente por Moscou em 2014, cruzaria uma linha vermelha importante para a Ucrânia e seus aliados europeus, além de violar o direito internacional estabelecido.

Zelensky rejeitou a ideia, afirmando que “não havia nada a discutir”, pois tal reconhecimento seria contra a Constituição da Ucrânia. Ele disse a repórteres na sexta-feira: “Concordo com o presidente Trump que a Ucrânia não possui armas suficientes para retomar o controle da península da Crimeia pela força das armas. Mas o mundo tem oportunidades de sanções e outras pressões econômicas.”

A CNN noticiou esta semana que Trump estava ficando frustrado com a paralisação das negociações e disse reservadamente a assessores que mediar um acordo tem sido mais difícil do que ele previa.

As negociações deste sábado ocorreram após Putin anunciar que a Rússia havia retomado o controle de Kursk, a região fronteiriça onde a Ucrânia lançou uma ofensiva surpresa no ano passado.

“A aventura do regime de Kiev fracassou completamente”, disse Putin, parabenizando as forças russas que, segundo ele, derrotaram os militares ucranianos na região.

Não houve reação imediata de Kiev à alegação de Putin e a CNN não conseguiu verificar de forma independente os relatos do campo de batalha.



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