Os equatorianos vão às urnas neste domingo (13) para um segundo turno nas eleições presidenciais, escolhendo entre o presidente de direita, Daniel Noboa, e a candidata Luisa González, do partido de esquerda liderado pelo ex-presidente Rafael Correa, enquanto o país luta contra uma crise de segurança.
As urnas no Equador abrem às 9h deste domingo, no horário de Brasília, e fecham às 19h. Os primeiros resultados da votação devem sair às 22h.
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), mais de 13 milhões de cidadãos estão aptos a votar, incluindo equatorianos que vivem no exterior.
Nesse processo eleitoral, serão eleitos o presidente e o vice-presidente da República para o mandato de 2025-2029.
A disputa é entre o atual presidente Daniel Noboa, da Ação Democrática Nacional (ADN), e Luisa González, candidata do Movimento Revolução Cidadã e importante figura da oposição.
No primeiro turno , Noboa obteve 44,15% dos votos, vencendo Luisa González, que obteve 44%. A diferença entre os dois candidatos foi de 0,15 ponto percentual, deixando o resultado em aberto e gerando grande expectativa para o segundo turno.
No Equador o voto é obrigatório para cidadãos entre 18 e 65 anos inscritos no cadastro eleitoral. Para aqueles com idade entre 16 e 18 anos e com mais de 65 anos o voto é opcional. Quem não comparecer às seções eleitorais, conforme estabelecido em lei, deverá pagar multa equivalente a 15% do salário-base unificado.
Os eleitores enfrentam uma eleição importante que definirá o curso do país nos próximos anos. Com propostas diferentes sobre economia, segurança e governança, Daniel Noboa e Luisa González estão representando duas abordagens políticas distintas.
Quem são os candidatos?
Noboa, de 37 anos, filho de um dos empresários mais ricos do Equador, nascido nos Estados Unidos e formado em Harvard, tornou-se presidente após uma vitória surpreendente em 2023, quando derrotou González no segundo turno.
Noboa é herdeiro do magnata da banana e cinco vezes candidato à presidência Álvaro Noboa, dono de uma das maiores fortunas do Equador, e disse que se identifica particularmente com o presidente dos EUA, Donald Trump.
Ao longo de seu primeiro mandato, críticos afirmam que Noboa violou normas políticas ao ordenar que forças de segurança invadissem a embaixada mexicana para prender Jorge Glas, ex-vice-presidente de Rafael Correa, acusado de corrupção. A quebra do protocolo diplomático levou o México a romper relações com o Equador.
Noboa ultrapassou os limites legais do cargo, iniciando e vencendo um referendo para expandir seus poderes de segurança em abril de 2024. Uma parte fundamental da estratégia de segurança foi o envio de militares para as prisões do Equador, que grupos criminosos do país controlam há anos com impunidade.
Quanto à economia, Noboa tem se apoiado fortemente em propostas como pagamentos em dinheiro e perdão de dívidas para agricultores afetados por desastres naturais.

Já Luisa González, de 47 anos, anunciou que, se eleita presidente, restabelecerá relações com o México e a Venezuela. A atual presidente do México, Claudia Sheinbaum, expressou seu desejo de que González se torne a primeira mulher a vencer a Presidência, como fez no México.
González baseou sua campanha em “Revitalizar o Equador”, centrando-se no retorno de uma política mais estatista e voltada para a redistribuição da Presidência de Correa.
Atualmente exilado na Bélgica, Rafael Correa continua sendo uma figura popular na política equatoriana, apesar das alegações de corrupção durante sua Presidência. Em 2020, um tribunal equatoriano condenou o ex-presidente a oito anos de prisão por suborno à revelia, acusação que ele negou repetidamente.
González tomou algumas medidas para se distanciar dele. Em entrevista à CNN pouco antes do primeiro turno, ela enfatizou que, se vencesse, seria ela quem estaria no comando – e não seu mentor.
“Sou o presidente do meu partido”, disse González, “sou eu quem lidera a minha campanha — é o meu plano de governo e os meus planos para o público. Então, quem vai governar? Será Luisa (González)”, afirmou.
O país tem enfrentado diversos cortes de energia ligados ao fenômeno El Niño, que seca os rios que abastecem as usinas hidrelétricas. Em resposta, González pediu maior intervenção governamental na rede elétrica do Equador.
Ela também negou publicamente que negociaria com criminosos. O plano de seu partido afirma que o governo se empenhará em criar um “novo modelo” de segurança baseado na “prevenção, redução da violência e coexistência”.
Contudo, quem vencer as eleições, não terá um fácil governo: nem o ADN nem o Movimento Revolução Cidadã obtiveram a maioria na Assembleia no primeiro turno e, embora sejam as duas principais forças políticas, ambas terão que negociar e forjar alianças para aprovar leis e reformas.
Após a eleição ser transferida para o segundo turno em fevereiro, ambos os candidatos alegaram, sem provas, que a votação foi possivelmente fraudulenta.
Ambos os candidatos encerraram suas campanhas na quinta-feira (10), em uma tentativa final de mobilizar os eleitores antes da eleição deste domingo. Após os resultados apertados do primeiro turno, Daniel Noboa e Luisa González insistiram que aumentarão o controle das urnas para evitar irregularidades.
O Conselho Eleitoral disse que garantirá transparência na contagem dos votos, embora não realizará uma contagem rápida devido à polarização existente.
Cerca de 92.000 delegados de movimentos políticos estão autorizados a monitorar as votações. Serão somados observadores nacionais e internacionais, além de cerca de 100 mil integrantes das Forças Armadas e da polícia, que acompanharão o evento em meio ao estado de conflito armado interno declarado no país há mais de um ano.
O Equador vive um período de grande incerteza política e social na reta final das eleições presidenciais.
Num contexto marcado por uma crescente crise de segurança, o país enfrenta um dos processos eleitorais mais disputados dos últimos anos.
Além dos desafios de segurança, o próximo governo — que tomará posse em 24 de maio — terá que enfrentar desafios cruciais como a crise energética, a recuperação econômica, o combate à corrupção e a revisão das relações diplomáticas, entre outros.

O crescente tráfico de drogas nos últimos anos fez com que o Equador tivesse a maior taxa de homicídios da América Latina em 2023 , de acordo com a InSight Crime.
A taxa caiu ligeiramente em 2024, mas a violência continua, pois os grupos criminosos se adaptaram e se fragmentaram após a repressão do governo.
Noboa tentou resolver o problema pela força, adotando uma abordagem firme para combater o crime.
Logo após assumir o poder em 2023, o país sofreu duas emergências consecutivas: um famoso líder de gangue escapou da prisão; dias depois, um grupo de homens armados invadiu uma grande emissora de TV e fez os funcionários reféns.
Em resposta, Noboa declarou o primeiro de vários estados de emergência e “conflito armado interno” no Equador, dizendo à Christiane Amanpour, da CNN, que ele havia “declarado guerra aos terroristas” na luta contra gangues.
Para conter a onda de crimes, Noboa solicitou abertamente a ajuda de governos e empresas estrangeiras, especialmente dos Estados Unidos.
Em março, ele anunciou uma “aliança estratégica” para combater o crime organizado com Erik Prince, fundador da controversa empresa privada de defesa anteriormente conhecida como Blackwater.
Documentos obtidos pela CNN mostram que o presidente está se preparando para abrigar forças militares americanas em uma nova base naval na costa equatoriana.
Correa havia rescindido o contrato de arrendamento da Marinha dos EUA sobre uma base semelhante e banido bases militares estrangeiras no país quando o Equador reescreveu sua Constituição em 2008. Noboa propôs suspender a proibição.
A presença dos EUA no Equador é um ponto de discórdia entre Noboa e González, que se opõe à intervenção estrangeira nas questões de segurança do país.
Além da onda de criminalidade, os equatorianos enfrentam uma economia fragilizada. Isabel Chiriboga, especialista em América Latina do think tank apartidário Atlantic Council, escreveu em fevereiro que o próximo presidente terá que administrar uma economia “à beira do colapso”.
Com informações da CNN Espanhol.