Os Estados Unidos estão trabalhando com as Forças Democráticas Sírias (SDF na sigla em inglês) lideradas pelos curdos, um parceiro-chave na luta em andamento contra o Estado Islâmico, enquanto o grupo enfrenta ataques de combatentes apoiados pela Turquia, informou o Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin.
Os EUA estavam monitorando de perto a situação “muito dinâmica” na Síria, Austin disse a repórteres no Japão nesta quarta-feira (11).
“Trabalhamos com a SDF por algum tempo e isso continua”, contou. “Temos um bom relacionamento com eles e acredito que continuará assim”.
Um comandante das SDF afirmou na terça-feira (10) que as tropas concordaram em se retirar da cidade de Manbij, sob seu controle, no norte da Síria, perto da fronteira com a Turquia, após chegarem a um acordo de cessar-fogo por meio da mediação dos EUA.
No entanto, os combatentes das forças continuaram com a “resistência” na cidade, acrescentou.
As declarações do militar vieram depois que o diretor de uma represa crítica perto de Manbij acusou a Turquia de um ataque à instalação que cortou a energia e levantou preocupações sobre seu potencial colapso.
As SDF também alegaram que drones lançados pelo Exército Livre da Síria (FSA) apoiado pela Turquia atacaram uma vila curda na Síria, matando pelo menos dois civis, incluindo uma criança.
A CNN está tentando entrar em contato com o governo turco para obter comentários.
Tomada de Deir Ezzor
Enquanto isso, no leste da Síria, a recém-formada coalizão rebelde, Military Operations Command, alegou ter tomado a cidade de Deir Ezzor das SDF – o que foi contestado pelas forças, alegando que suas tropas haviam se retirado apenas das margens ocidentais do Rio Eufrates.
Nesta quarta-feira (11), Austin reiterou que a postura da força dos EUA permanece inalterada e que ficaria “em contato próximo com nossos parceiros na região” conforme a situação se desenvolve.
A principal prioridade é proteger as tropas americanas e prevenir o ressurgimento do Estados Islâmico, explicou.
Diferentes grupos controlam o território sírio
Vários grupos armados operam e controlam regiões na Síria:
- Forças Democráticas Sírias – SDF
- Exército Livre da Síria – FSA
- Hayat Tahrir al-Sham -HTS
- Exército Nacional Sírio – SNA (apoiado pela Turquia, que incorpora dezenas de facções com várias ideologias)
A SDF é composta em grande parte por combatentes curdos de um grupo conhecido como Unidades de Proteção do Povo (YPG), considerado uma organização terrorista pela Turquia.
As forças curdas ocupam o nordeste do país, tendo conquistado autonomia durante uma década de guerra civil. Eles temem que sua soberania possa agora estar sob ameaça dos insurgentes da oposição síria, que derrubaram o regime de Bashar al-Assad.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, segundo a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.