Mesmo que você não passe o dia nas redes sociais, tenho certeza que viu algum vídeo de alguém usando os áudios do “ex da Giovanna”. Se você anda vivendo em Marte, vou te contar o que rolou: esse rapazola mandava áudios inacreditavelmente tóxicos para sua então namorada. Ela os publicou no tiktok, o absurdo viralizou e o resto você já imagina.
A autoestima de milhões do moço é de dar inveja em Narciso. Acontece que a internet não perdoa, se você for exposto nesse ambiente, a ala de fuçadores vai te encontrar e a partir daí, vira um cavalo desgovernado. O rosto do cara apareceu em um montão de vídeos, rolou em incontáveis grupos e se ele pisar numa padaria qualquer de São Paulo, todo mundo vai saber que ele é o ex tóxico da Giovanna.
Cintia Chagas, mais uma personalidade que ganhou fama graças às redes sociais, foi outra pauta das fifis do momento. Ela, que sempre manteve um discurso conservador e antifeminista, afirmando que mulheres deveriam ser submissas aos maridos, divorciou-se em três meses (ironicamente, usufruindo de um direito que as feministas conquistaram). Acontece que a razão do divórcio veio à tona: Cintia sofreu violência doméstica.
Foi o que bastou para a internet vir abaixo comentando o caso. Vídeos e mais vídeos com prints de conversas particulares, gente criticando e defendendo, todo mundo com uma baita opinião formada sobre a vida dela. Não vou cair no mesmo erro, mas apenas para registro, mulher nenhuma ‘merece’ sofrer violência dentro de casa. Sentir na pele nem sempre educa as pessoas sobre o que é certo.
Outro exemplo é a moça do noivado, que para seu próprio bem, não teve o nome amplamente divulgado. Ela postou um vídeo dizendo que estava indo, mais uma vez, pintar a unha de branco na esperança de receber um pedido de noivado por parte do namorado com quem já está há 6 anos. Devo ter visto uns 20 vídeos de gente opinando sobre o assunto, todos criticando a garota. Foi tão sério que ela publicou vários vídeos tentando defender seu namoro, que obviamente, azedou com toda essa repercussão.
Os 3 casos têm em comum uma amostra desse traço social que a internet nos trouxe, em que qualquer figura anônima se torna uma influencer milionária apenas expondo sua rotina, literalmente: o que come, o que bebe, onde vai e, especialmente, com quem se relaciona. Essa releitura das revistas de fofoca da década de 1990 se retroalimenta: se algo sobre você se torna público, isso me dá o direito de publicar minha opinião e te dá o direito de me rebater, tornando o processo todo um baita circo que pode durar meses, gerando muito dinheiro em views.
A internet é cruel, a gente precisa ter um preparo fora do comum para lidar com os haters. Uma famosa como a Iza, por exemplo, que teve sua intimidade exposta em uma traição que o Brasil inteiro comentou, ganha uma boa grana e contrata uma agência para administrar sua imagem. Eles pagam outras pessoas para lidar com essa massa de opiniões e transformar ódio e amor, na mesma proporção, em mais dinheiro.
Toda vez que vejo um escândalo de traição pipocar nas redes, dou graças ao bom Deus de não ser ninguém na fila do pão. Se já é chato você ir ao churrasco onde todo mundo pergunta por onde anda aquele namorado que você demitiu porque foi um escroto, imagina seu término ser pauta na globo.com? Todo mundo especulando quem traiu quem, teorias mirabolantes, um fio que pode levar ANOS sendo relembrado, conduzido por esse besouro rola-bosta que é a rede social.
Lembra a figura da velha fofoqueira da Praça É Nossa? Então, é um pouco isso. Posso ter perdido muitas visualizações não postando nada sobre esses casos que citei, mas meu arrependimento é ZERO. Deus me livre engrossar esse coro. Boto um podcast nos fones e vou limpar minha casa, que os pelos dos meus gatos não vão se retirar sozinhos.
A vida do millenial anda tão tediosa que a gente desenvolveu uma espécie de hiperfoco na vida dos outros. Que momento maravilhoso para refletirmos: será que a minha opinião é mesmo TÃO importante assim? Às vezes não é. Ela só engaja mesmo.