Em Campo Grande, não diferente da realidade brasileira, a exclusão no trabalho e a falta de reconhecimento existem. A Espro (Pesquisa Diversidade Jovem do Ensino Social Profissionalizante) mostrou que 41% dos jovens negros no Brasil já foram excluídos de grupos sociais no emprego e 38% não tiveram reconhecimento por ideias.
A informação em Mato Grosso do Sul ganha vida por meio da história da psicóloga e mestranda em antropologia social Thayná da Silva Santos. A profissional destaca que já passou por situações racistas. Conforme revela ao Primeira Página, durante a faculdade, em estágios e trabalhos por onde passou, ouvia comentários que a deixavam chateada com a realidade.
“Um dos que mais me marcou, foi uma vez que me disseram que eu não tinha cara de psicóloga e que eu deveria cortar meu cabelo se resolvesse clinicar. Já teve paciente que disse que não se consultaria comigo, porque eu não tenho cara de psicóloga. Depois, justificou com a idade, afirmando que eu era muito nova”.
De acordo com o levantamento da Espro, estudo realizado também em parceria com a Diverse Soluções, ecossistema de negócios em diversidade e inclusão, entre 3.257 adolescentes e jovens de todo o país, com idades entre 14 e 23 anos, cerca de 30% afirmaram já ter encontrado dificuldade de acessar ambientes, equipamentos ou pessoas.
Já 29% disseram já ter sofrido violência verbal, física ou psicológica, enquanto 19% relataram não ter sido considerados para promoções. Além disso, 32% já foram desclassificados de alguma vaga de emprego por conta de suas características individuais.
Além dos julgamentos diante da aparência, a exclusão também se fez presente socialmente para Thayná nos espaços de trabalho. Embora lutasse para que a exclusão não deixasse afetar a vida profissional, o sentimento de desvalorização seguiu, por muitas vezes, em uma crescente.
“Eram situações que diziam respeito a mim e a quem eu era, sabe? Não ser chamada para almoços ou confraternizações pós-serviço em uma clínica que eu trabalhei, me deixava bastante chateada, eu me sentia insegura com meu trabalho e isso mexia muito com minha autoestima”, lamentou.
Ainda segundo o levantamento Espro, 46% dos jovens negros afirmaram já ter sentido ou presenciado situações de preconceito relacionadas à diversidade no ambiente de trabalho. Os índices sobem para 78% e 80% em serviços públicos e na escola ou faculdade, respectivamente.
“Acho que nós pessoas pretas temos que ser tratados com respeito e profissionalismo. Somos competentes e temos orgulho do nosso estudo e trabalho”.
Thayná da Silva Santos
Além de sofrer com a questão social de exclusão, houve também a desvalorização de propostas de trabalho. “Eu dei uma ideia para uma oficina psicoeducativa com o teor étnico racial, mas a devolutiva que obteve é de que “não havia muita necessidade de algo assim ser feito no local e que não era uma demanda que entraria”, relembrou.