O aspecto familiar chama a atenção em meio ao esquema de compra de decisões no Judiciário de Mato Grosso do Sul, investigado na Operação Último Ratio, deflagrada nesta quinta-feira (24) em Mato Grosso do Sul.
Entre os investigados estão os filhos advogados dos desembargadores e que tinham acesso “privilegiado” aos magistrados na negociação das sentenças, cita o delegado Carlos Henrique Cotta D’Angelo, superintendente da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul em entrevista exclusiva à TV Morena.
“Alguns escritórios de advocacia tinham um tratamento diferenciado por parte de alguns gabinetes do Tribunal de Justiça local, e isso nos permitiu identificar algumas decisões judiciais que tinham forte indício de serem negociadas no âmbito daquele tribunal. Nós observamos casos em que parentes próximos aos desembargadores tinham esse tratamento privilegiado para algumas decisões.”
Carlos Henrique Cotta D’Angelo, superintendente da Polícia Federal.
O envolvimento das famílias dos desembargadores no esquema foi descoberto graças às quebras de sigilo telefônico de pais e filhos, realizadas no decorrer da apuração. Saiba a ligação entre os investigados:
- Sideni Soncini Pimentel e seus filhos Rodrigo Gonçalves Pimentel e Renata Gonçalves Pimentel
- Vladimir Abreu da Silva e seus filhos Ana Carolina Machado Abreu da Silva e Marcus Vinícius Machado Abreu da Silva
- Alexandre Aguiar Bastos e sua filha Camila Cavalcante Bastos
- Divoncir Schreiner Maran e seus filhos Divoncir Schreiner Maran Júnior, Vanio Cesar Bonadiman Maran, Rafael Fernando Ghelen Maran e Maria Fernanda Ghelen Maran
- Diogo Ferreira Rodrigues – advogado e filho do desembargador Marcos José de Brito
- Fábio Castro Leandro – ex-procurador-geral da Prefeitura de Campo Grande e filho do desembargador aposentado Paschoal Carmello Leandro
- Rodrigo Gonçalves Pimentel – filho do desembargador Sideni Soncini Pimentel
As investigações continuam para identificar quantos e quais foram os prejudicados pelo esquema.
“Ainda não temos uma identificação precisa de que tipo de causa poderia ser privilegiada ou preterida no tribunal, mas certamente pessoas, instituições e empresas foram beneficiadas e, consequentemente, outras prejudicadas”.
Carlos Henrique Cotta D’Angelo, superintendente da Polícia Federal.
Último Ratio
A ação que revelou o esquema de corrupção dentro do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) começou com investigações de outra operação, a Mineração de Ouro. Deflagrada em 2021, ela tinha como alvo três conselheiros do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul.
A partir daquela operação, a PF chegou até o esquema de corrupção no alto escalão do Judiciário de Mato Grosso do Sul. Os principais alvos da operação são:
- Sérgio Fernandes Martins – atual presidente da Corte
- Vladimir Abreu – vice-presidente eleito para assumir o biênio 2025/2026
- Sideni Pimentel – presidente eleito para assumir o biênio 2025/2026
- Alexandre Aguiar Bastos – desembargador
- Marcos Brito – desembargador
Entre os alvos de busca e apreensão da Operação Último Ratio estava o desembargador recém-aposentado Júlio Roberto Siqueira Cardoso, que guardava R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo em sua residência.
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Desembargador recém-aposentado tinha R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo
Além das notas, que foram capazes de “abarrotar” uma mesa inteira da residência do desembargador aposentado, documentos, mídias, computadores e celulares foram apreendidos no local.
Ao todo, foram cumpridos 44 mandados de busca e apreensão expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça em Campo Grande, Brasília (DF), São Paulo (SP) e Cuiabá (MT).
Os suspeitos são investigados pelos crimes de corrupção na venda de decisões judiciais, lavagem de dinheiro, organização criminosa, extorsão e falsificação de escrituras públicas no Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul.
A ação é chamada de Operação Último Ratio e é um desdobramento da Operação Mineração de Ouro, deflagrada em 2021, na qual foram apreendidos materiais com indícios da prática dos referidos crimes.