A violência crescente no Haiti fez com que conseguir atendimento médico tenha se tornado uma tarefa difícil para a maioria das pessoas. Por isso, as mães haitianas estão buscando atendimento em hospitais na vizinha República Dominicana, apesar de políticas para o aumento de deportações.
Os dois países compartilham a ilha caribenha de Hispaniola, mas são divididos por uma fronteira fortemente protegida, tensões de longa data e uma imensa diferença de riqueza. As crianças nascidas de pais haitianos na República Dominicana não recebem cidadania.
“Eu tive meu filho aqui”, destacou Cineas Lionne à Reuters em um hospital na cidade de Punta Cana, no leste do país. “Não acho que receberia bons cuidados no Haiti por causa da situação com o governo — não há governo”, ponderou.
Em outubro, a ONU constatou que menos de um quarto dos hospitais estava funcionando em torno da capital haitiana, Porto Príncipe, enquanto os hospitais de outros lugares lutam para lidar com o fluxo de refugiados que fogem dos ataques de gangues.
Entretanto, essa avaliação foi feita antes de um pico de violência no final de 2024. Gangues atiraram contra e mataram jornalistas reunidos no maior hospital público do Haiti para uma coletiva de imprensa do governo que deveria anunciar a tão esperada reabertura. Esses planos foram suspensos.
A violência forçou o aeroporto e os portos da capital a fecharem, fazendo com que os hospitais alertassem sobre a falta de suprimentos, como sangue e oxigênio.
O grupo de ajuda humanitária Médicos Sem Fronteiras suspendeu temporariamente os serviços na região no ano passado devido a ameaças.
Haitianas dão à luz na República Dominicana
“Os médicos daqui me trataram bem”, disse Beatrice Agustin, que deu à luz em uma maternidade na capital dominicana.
“No Haiti há muitos gangsteres. Lá não se pode dar à luz, mas se você estiver aqui sem documentos, dar à luz na República Dominicana é complicado”, comentou ela.
Especialistas da ONU alertaram nos últimos anos que as mulheres haitianas grávidas e no pós-parto que procuram atendimento médico na República Dominicana enfrentam intimidação, detenção e deportação, citando invasões a hospitais públicos e prisões durante exames.
A ONU pediu às nações vizinhas que parassem de deportar os haitianos de volta para o país, onde mais de 5 milhões de pessoas estão passando fome e mais de 1 milhão estão deslocadas internamente, pois as gangues armadas continuam ganhando território.
Muitas famílias estão dividindo suas casas ou vivendo em acampamentos improvisados.
República Dominicana promete deportar haitianos
A República Dominicana afirmou que vai deportar até 10 mil pessoas por semana. O país deportou mais de 200 mil haitianos no ano passado e quase 15 mil nas duas primeiras semanas de 2025.
Os políticos dominicanos acusaram os imigrantes haitianos de alimentar a insegurança e disseram que seu país já está dando demais.
“Nossa infraestrutura não tem capacidade para receber esse número de pessoas”, argumentou o senador e ex-ministro da Saúde Daniel Rivera à Reuters, afirmando que a prioridade é expandir o atendimento médico para os dominicanos.
Médicos pontuaram que muitas mulheres haitianas têm medo de comparecer aos exames pré-natais e tendem a chegar tarde da noite ou quando estão prestes a dar à luz, devido ao risco de deportação.
O diretor do serviço nacional de saúde, Martin Ortiz, observou que as autoridades imigratórias não têm permissão para entrar nos hospitais para fazer prisões.
“Nossa missão é prestar atendimento. O mesmo cuidado é dado igualmente”, garantiu.