Há um ano, cidadãos do Brasil e do Japão são dispensados da exigência de visto de turista em viagens entre os dois países. Com isso, houve um aumento de 60% no volume de brasileiros que cruzaram o mundo para visitar as ilhas nipônicas, contou à CNN o embaixador Teiji Hayashi.
Desde dezembro de 2021 servindo como embaixador do Japão no Brasil, Hayashi tem dedicado atenção prioritária à organização e promoção de eventos que vão marcar, em 2025, os 130 anos das relações diplomáticas entre os dois países – a imigração japonesa no Brasil completou 115 anos em junho de 2023. Uma das ideias é uma viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão no próximo ano, de acordo com o diplomata.
Hayashi explicou nesta entrevista ao Vozes da Diplomacia que estão avançando as conversas entre os governos de Brasil e Japão para abertura do mercado nipônico à carne bovina brasileira, após acordo mútuo entre os países anunciado em maio, quando o então primeiro-ministro Fumio Kishida foi recebido por Lula em Brasília.
No mês passado, ele renunciou ao cargo e os japoneses escolherão um novo chefe de governo no próximo dia 27 – uma disputa que, pela primeira vez, teve nove nomes pré-indicados ao posto. Apesar desse cenário político no Japão, Hayashi garante que isso não vai influenciar as negociações sobre a carne bovina brasileira. “Seja quem for o novo primeiro-ministro, o governo japonês vai cumprir esse compromisso”, disse o embaixador japonês.
Leia abaixo a entrevista:
CNN – Queria começar perguntando sobre as relações entre Brasil e Japão, que vão completar 130 anos em 2025. O que está sendo preparado para promover esse marco e avançar nessa relação bilateral?
No ano que vem, teremos o aniversário de 130 anos das relações diplomáticas entre Japão e Brasil. Queremos promover mais as relações bilaterais entre nossos países com vários eventos culturais, turísticos e organizar visitas mútuas de pessoas importantes. Por exemplo, estamos convidando o presidente Lula para visitar o Japão no ano que vem. Também temos uma exposição universal importante, Osaka Kansai, onde teremos um pavilhão para promover a cultura e o povo brasileiro no Japão.
CNN – Neste mês de setembro, completa-se um ano desde o fim da exigência de visto para cidadãos dos dois países. Qual é o saldo da vinda de japoneses ao Brasil e ida de brasileiros ao Japão?
Começamos a liberar os visitantes brasileiros no Japão da exigência do visto no fim de setembro do ano passado. Temos um resultado muito significativo: em comparação aos meses de 2019, antes da pandemia da Covid, vemos um aumento de 60% de visitantes brasileiros no Japão como turistas ou estudantes. Então, é muito encorajador para aumentar o intercâmbio de pessoas entre os dois países. Além disso, o Brasil tem muitos recursos turísticos. Vamos aproveitar esse aniversário das relações de amizade em 2025, estou falando com várias autoridades e empresas brasileiras para trazer mais turistas japoneses. Esperamos um aumento significativo de turistas em ambas as direções.
CNN – Falando agora das questões ambientais, para o Japão, o quão importante é ter o Brasil como um parceiro em busca de energias renováveis e de enfrentamento das mudanças climáticas?
O Brasil realmente tem um potencial em energia renovável, com produção de etanol, energia solar, eólica etc. E as empresas japonesas têm tecnologias para produção de energias renováveis. Por exemplo, no ano passado a Kawazaki lançou o primeiro navio-tanque transportador de hidrogênio, que pode distribuir e exportar hidrogênio produzido no Brasil. Acredito que a combinação da tecnologia japonesa com o potencial brasileiro em energias renováveis dará um benefício muito significativo não só para ambos os países, mas para todo o mundo.
CNN – Em maio, o primeiro-ministro japonês esteve no Brasil e o governo brasileiro, o próprio presidente Lula, fez um pedido em relação à abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira. Como avançaram essas conversas?
Quando nosso primeiro-ministro visitou o presidente Lula, fizeram um acordo para avançar nas discussões e manter contatos constantes entre os dois ministérios de Agricultura. Trata-se de um tema técnico, então manter contatos e discussões entre os especialistas fitossanitários são importantes. Depois da visita do primeiro-ministro Kishida, houve várias reuniões entre os técnicos. Como embaixador do Japão, espero um bom resultado dessas discussões no futuro, resultados satisfatórios para ambos os países.
CNN – Agora no fim de setembro, haverá eleições para escolha de um novo primeiro-ministro. Essa mudança política pode afetar essas discussões sobre a carne bovina?
Acho que não. É um tema técnico, então os especialistas vão trabalhar juntos para resolver os pontos de discussão. Seja quem for o novo primeiro-ministro, o governo japonês vai cumprir esse compromisso feito na visita de maio deste ano.
(Colaboraram Fernando Nakagawa e Pedro Zanatta)