Autoridades dos EUA mantiveram cerca de 100 migrantes indianos deportados algemados durante o voo de 40 horas para casa, incluindo durante as pausas para ir ao banheiro, no mais recente incidente a gerar reações no exterior com a repressão à política de migração do presidente Donald Trump.
Legisladores indianos se manifestaram do lado de fora do Parlamento na quinta-feira (6), alguns usando algemas e outros zombando da tão alardeada amizade entre Trump e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi.
Em outro lugar em Nova Déli, membros da ala jovem do principal partido de oposição da Índia queimaram uma imagem de Trump.
No mês passado, o espetáculo de deportados colombianos sendo algemados ao embarcarem em um voo de deportação dos EUA desencadeou uma disputa amarga entre os dois países, com o presidente colombiano Gustavo Petro recusando inicialmente a permissão de pouso do avião militar.
A raiva na Índia vem dias antes de uma visita esperada de Modi para se encontrar com Trump — a quem ele chamou de “verdadeiro amigo” — na Casa Branca.
S. Kuldeep Singh Dhaliwal, um ministro do governo no estado ocidental de Punjab, onde o voo de deportação pousou, pediu a Modi que “agora use sua amizade para resolver o problema”.
Dhaliwal também questionou “a utilidade dessa amizade se ela não puder ajudar cidadãos indianos necessitados”, declarou seu gabinete em um comunicado.
Viagem de 40 horas
O voo para a Índia foi o mais longo em distância desde que o governo Trump começou a enviar aeronaves militares para deportações de migrantes, segundo autoridade dos EUA.
“Nossas mãos foram algemadas e tornozelos amarrados com correntes antes de pegarmos o voo”, relatou Akashdeep Singh, de 23 anos, que chegou a Punjab na quarta-feira (5) com outros 103 deportados.
Segundo Singhr, os migrantes pediram aos oficiais militares que o tirassem para comer ou ir ao banheiro, “mas eles nos trataram horrivelmente e sem qualquer consideração”.
“A maneira como eles olharam para nós, eu nunca vou esquecer… Fomos ao banheiro com as algemas. Logo antes de pousar, eles removeram das mulheres. Nós vimos. Para nós, elas foram removidas pelos policiais locais depois que pousamos.”
O chefe da patrulha de fronteira dos EUA, Michael W. Banks, postou um vídeo dos deportados indianos sendo colocados em um avião em X.
Nas imagens, algemas são vistas nos pulsos e tornozelos de vários homens que sobem lentamente a rampa.
USBP and partners successfully returned illegal aliens to India, marking the farthest deportation flight yet using military transport. This mission underscores our commitment to enforcing immigration laws and ensuring swift removals.
If you cross illegally, you will be removed. pic.twitter.com/WW4OWYzWOf
— Chief Michael W. Banks (@USBPChief) February 5, 2025
A CNN entrou em contato com o Pentágono e a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA para comentar se os deportados foram mantidos algemados durante o voo.
‘Vida melhor, futuro melhor’
O deportado Sukhpal Singh, 35, também afirmou que as algemas foram mantidas durante todo o voo, incluindo uma parada para reabastecimento na ilha de Guam, no Pacífico.
“Eles nos trataram como criminosos”, expressou. “Se tentássemos ficar de pé porque nossas pernas estavam inchando devido às algemas, eles gritavam para que sentássemos.”
Os jovens indianos em busca de oportunidades de trabalho constituíram uma parcela considerável dos migrantes sem documentos nos EUA, muitos depois de fazer a perigosa jornada pela América Latina para chegar à fronteira sul do país.
Muitos dizem que não veem futuro em casa, onde uma crise de empregos está sufocando as esperanças dos jovens no país mais populoso do mundo.
Em apenas quatro anos, o número de cidadãos indianos que entraram ilegalmente nos Estados Unidos aumentou drasticamente — de 8.027 no ano fiscal de 2018-19 para 96.917 durante 2022-23, conforme dados do governo.
Famílias já contaram à CNN como venderam terras para levantar as dezenas de milhares de dólares cobrados por “agentes de viagens” para levar migrantes na arriscada jornada para o país.
“Eu tinha ido para trabalhar, para uma vida melhor, para um futuro melhor”, exclamou Sukhpal Singh, que tem um filho e uma filha e esperava prover melhor para eles conseguindo um emprego nos EUA.
Singh continuou, “você vê isso em filmes e ouve de pessoas ao seu redor que há trabalho lá e as pessoas são bem-sucedidas lá, então é por isso que eu também queria ir.”