Israel intensifica ataques ao norte de Gaza; fome ameaça 400 mil palestinos


A operação de Israel para desarticular um suposto reagrupamento do Hamas no norte da Faixa de Gaza criou uma crise humanitária no território palestino.

A presença ostensiva dos soldados das Forças de Defesa de Israel já dura quase um mês. E atinge principalmente a região de Jabália, que sedia um grande campo de refugiados e que está sob ordem de retirada imediata dos militares israelenses. 

Desde o início do mês, mais de 360 palestinos morreram na região, segundo autoridades palestinas.

Além disso, entidades de ajuda humanitária que atuam no local acusam Israel de isolar a região para a entrada de alimentos — o que teria causado um pico na fome entre os mais de 400 mil moradores do norte do enclave palestino.

Segundo a ONG israelense Gisha, os militares adotaram uma política de “saia ou morra de fome”, forçando os palestinos a se refugiarem no sul. A ONU divulgou uma crítica similar, apontando que o exército israelense estaria forçando os moradores do norte de Gaza a escolher entre fome ou o deslocamento.

“Os civis não têm escolha a não ser morrer de fome ou ir embora”, disse Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para refugiados da Palestina (UNRWA), em uma declaração na segunda-feira (14). “Em Gaza, muitas linhas vermelhas foram cruzadas”.

A agência israelense que administra o fluxo de ajuda para Gaza nega. E afirma que 30 caminhões entraram no norte na segunda-feira, insistindo que Israel “não está impedindo a entrada de ajuda humanitária”.

Cachorros comem corpos deixados nas ruas

Corpos espalhados por ruas empoeiradas, estradas inteiras destruídas por ataques israelenses, pessoas morrendo de fome. Este é o cenário relatado em Jabália pelo chefe dos serviços de emergência na área.

“Você pode ver os sinais de fome nas pessoas no norte de Gaza”, disse Fares Afana, chefe dos serviços de emergência no norte de Gaza, à CNN por telefone “As forças israelenses estão destruindo tudo que representa vida ou sinais de vida.”

Afana disse à CNN que ele e seus colegas receberam os corpos de palestinos mortos no norte de Gaza, com alguns mostrando sinais de que animais estavam se alimentando, o que sufocou os esforços para identificar os mortos.

“Cães de rua que estão com fome estão comendo esses corpos… Isso dificulta a identificação dos corpos”, disse ele.

Ele compartilhou uma foto com a CNN mostrando os restos mortais de uma criança cujo corpo ele disse ter sido comido por cães de rua.

Afana disse que há “milhares de crianças” e mulheres grávidas presas na área sitiada, onde o exército israelense realizou ataques aéreos e terrestres em três bairros nos últimos 12 dias.

Pelo menos 50.000 pessoas foram deslocadas da área de Jabalya, informou o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU no domingo.

Afana disse que na segunda-feira as forças israelenses atiraram em moradores famintos que buscavam comida em um centro de ajuda administrado pela UNRWA. “A situação está piorando”, disse ele.

A UNRWA disse que um ataque de artilharia em seu centro de distribuição de alimentos em Jabalya na segunda-feira teria matado pelo menos 10 pessoas e ferido outras 40.

A CNN pediu comentários às FDI.

“Para os paramédicos, também é muito perigoso chegar a esta área… como resultado das estradas sendo explodidas e do fogo direto dos militares israelenses em nossos veículos”, disse Afana.

Ele disse que ambulâncias foram atingidas por estilhaços de artilharia israelense perto do Hospital Yemen al-Sa’eed, em Jabalya, compartilhando um vídeo das consequências que mostrou uma ambulância com pneus esmagados e marcas de bala.

“O que está acontecendo no norte de Gaza é um verdadeiro genocídio”, ele acrescentou. “Não podemos fazer nosso trabalho normalmente.”

A CNN perguntou às FDI sobre as alegações de Afana de que veículos de emergência foram alvejados pelo exército israelense.

Biden e Netanyahu se reúnem na Casa Branca • 25/07/2024 REUTERS/Elizabeth Frantz

EUA exigem de Israel melhora na situação humanitária em Gaza

A administração Biden enviou uma carta ao governo israelense exigindo que a coalizão de Benjamin Netanyahu tome ações concretas para melhorar a situação humanitária em Gaza nos próximos 30 dias ou corre o risco de violar as leis dos EUA que regem a assistência militar estrangeira, sugerindo que a ajuda militar dos EUA pode estar em risco.

A carta de domingo, escrita em conjunto pelo Secretário de Estado dos EUA Antony Blinken e pelo Secretário de Defesa Lloyd Austin, é endereçada ao Ministro da Defesa israelense Yoav Gallant e ao Ministro de Assuntos Estratégicos Ron Dermer. O documento marca um novo passo significativo dos EUA para tentar obrigar Israel a facilitar a entrega de ajuda humanitária em Gaza.

Eles escrevem que os EUA têm profundas preocupações sobre a situação e pedem “ações urgentes e sustentadas do seu governo neste mês para reverter essa trajetória”.

Desde esta primavera, a quantidade de ajuda entregue a Gaza caiu mais de 50% e a quantidade entregue em setembro “foi a menor de qualquer mês durante o ano passado”, acrescentaram.

Apesar do aviso severo, no entanto, os EUA continuaram a fornecer assistência militar a Israel, incluindo um sistema avançado de defesa aérea e tropas americanas que começaram a chegar ao país na segunda-feira (14).

A lista de demandas dos EUA é extensa. Israel deve permitir que pelo menos 350 caminhões por dia entrem em Gaza por todas as quatro principais travessias, diz a carta, além de abrir uma quinta travessia. Israel também deve, no próximo mês, implementar pausas humanitárias em Gaza conforme necessário para permitir atividades humanitárias, incluindo vacinação e distribuição de ajuda por pelo menos os próximos quatro meses.

Os EUA também estão exigindo que Israel permita que as pessoas na zona humanitária de Al-Mawasi dentro de Gaza se movam para o interior antes do inverno e aumentem a segurança dos comboios e movimentos humanitários.

Israel também deveria tomar medidas para garantir que os corredores das Forças Armadas da Jordânia estejam funcionando em “capacidade total e contínua”.

O que se sabe sobre o ataque do Irã contra Israel



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