Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmou em entrevista coletiva ao lado de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, na terça-feira (4) que os palestinos devem realocados da Faixa de Gaza e que os EUA tomariam controle do território.
Em vez de Gaza, Trump sugeriu que os palestinos recebessem um “bom, fresco e belo pedaço de terra” para viver.
Além disso, em resposta a Kaitlan Collins, da CNN, o republicano disse que Gaza tem o potencial para se tornar “a Riviera do Oriente Médio”, com pessoas de diversos países vivendo lá.
Anteriormente, ele já havia dito que o Egito e a Jordânia deveriam receber palestinos, ideia que foi refutada pelos dois países. Veja abaixo a repercussão de líderes mundiais às propostas de Trump para a Faixa de Gaza.
O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita rejeitou “qualquer tentativa de deslocar os palestinos de suas terras”, ressaltando que essa posição do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman é inequívoca.
A Jordânia, por sua vez, ressaltou: “Sua Majestade, o Rei Abdullah II, enfatiza a necessidade de pôr fim à expansão dos assentamentos [israelenses], expressando rejeição a qualquer tentativa de anexar terras e deslocar os palestinos“.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, advertiu que os palestinos não abrirão mão de suas terras, direitos e locais sagrados, e que a Faixa de Gaza é parte integrante da terra do Estado da Palestina, junto com a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Ele acrescentou que qualquer tomada do território pelos EUA seria uma “grave violação do direito internacional”.
Hussein Al-Sheikh, secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina, destacou que “a liderança palestina afirma sua posição firme de que a solução de dois Estados, de acordo com a legitimidade internacional e o direito internacional, é a garantia de segurança, estabilidade e paz”.
O chanceler do Egito, Badr Abdelatty, discutou com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Mustafa, a importância de seguir em frente com os projetos de recuperação em Gaza sem que os palestinos deixem o território.
“Em relação à situação humanitária em Gaza, a reunião enfatizou a importância de avançar com os primeiros projetos e programas de recuperação, removendo escombros e entregando ajuda humanitária em um ritmo acelerado, sem que os palestinos deixem a Faixa de Gaza, especialmente devido ao seu apego à sua terra e sua recusa em deixá-la”, ressaltou o Ministério das Relações Exteriores egípcio.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a ideia de Trump “não faz sentido”. “Onde os palestinos viveriam? Isso é algo incompreensível para qualquer ser humano… Os palestinos são os que precisam cuidar de Gaza“, destacou.
Benjamin Netanyahu, premiê israelense, comentou que a proposta do presidente dos EUA pode “mudar a história” e que “vale a pena realmente seguir essa via”.
Ben Gvir, ex-ministro de Segurança Nacional de Israel, também apoio a ideia, alegando que “encorajar” os moradores de Gaza a saírem do território é a única estratégia correta no final da guerra. Ele pediu a Netanyahu que adote essa política “imediatamente”.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, destacou que os palestinos “devem ter permissão para voltar para casa, devem ter permissão para reconstruir, e devemos estar com eles nessa reconstrução no caminho para uma solução de dois estados”.
![Veículo blindado circula em meio a edifícios danificados na Faixa de Gaza](https://www.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2024/11/2024-11-08T234551Z_1_LYNXMPEKA70US_RTROPTP_4_ISRAEL-PALESTINIANS-GAZA-e1734452033300.jpg?w=1024)
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, pontuou que a Faixa de Gaza pertence aos palestinos e que a expulsão da população seria inaceitável e contrária ao direito internacional.
“Também levaria a um novo sofrimento e a um novo ódio… Não deve haver solução sobre as cabeças dos palestinos”, ponderou.
A França reiterou oposição a qualquer deslocamento forçado da população palestina de Gaza.
Segundo Christophe Lemoine, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores francês, isso “constituiria uma violação grave do direito internacional, um ataque às aspirações legítimas dos palestinos, um grande obstáculo à solução de dois Estados e um grande fator desestabilizador para nossos parceiros próximos Egito e Jordânia, bem como para toda a região”.
O chanceler da Espanha, Jose Manuel Albares, comentou que os palestinos devem permanecer na Faixa de Gaza. “Gaza faz parte do futuro Estado palestino que a Espanha apoia, e tem que coexistir garantindo a prosperidade e a segurança do Estado israelense”.
Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, observou que a Rússia acredita que um acordo no Oriente Médio só é possível com base em uma solução de dois Estados.
A China, por sua vez, espera que “todas as partes tomem o cessar-fogo e a governança pós-conflito como uma oportunidade para trazer a questão palestina de volta ao caminho certo de acordo político com base na solução de dois Estados”.
Hkan Fidan, ministro das Relações Exteriores da Turquia, advertiu que os comentários de Trump sobre o plano para assumir Gaza são “inaceitáveis”, adicionando que quaisquer planos que deixem os palestinos “fora da equação” levariam a mais conflitos.
O Irã informou que não concorda com nenhum deslocamento de palestinos.
Anthony Albanese, primeiro-ministro da Austrália, disse: “A posição da Austrália é a mesma desta manhã, assim como foi no ano passado. O governo australiano apoia em uma base bipartidária uma solução de dois Estados”.
ONU responde proposta de Trump para Gaza
O escritório de Direitos Humanos da ONU ressaltou que é crucial que o acordo de cessar-fogo para a Faixa de Gaza avance para a segunda fase, para que todos os reféns e prisioneiros “detidos arbitrariamente” sejam soltos.
Além disso, o fim da guerra é necessário para que seja possível reconstruir o território “com total respeito ao direito internacional humanitário e ao direito internacional dos direitos humanos”.
“Qualquer transferência forçada ou deportação de pessoas de território ocupado é estritamente proibida“, alertou o escritório da ONU.
Hamas e Jihad Islâmica criticam proposta de Trump para Gaza
O Hamas rejeitou “veementemente” os planos de Donald Trump para a Faixa de Gaza. Izzat el-Reshiq, alto funcionário do grupo radical, disse que o republicano deveria se retratar das declarações “porque elas jogam lenha na fogueira”.
Ele também pediu que as nações árabes realizem uma “cúpula árabe-islâmica urgente para analisar tais declarações”.
Além disso, Abu Zuhri, outro alto funcionário do Hamas, afirmou: “Nosso povo na Faixa de Gaza não permitirá que esses planos passem… O que é necessário é acabar com a ocupação [israelense] e a agressão contra nosso povo, não expulsá-los de suas terras”.
A Jihad Islâmica, por sua vez, argumentou que as ideias de Trump são uma escalada perigosa que ameaça a segurança nacional árabe e regional, especialmente no Egito e na Jordânia, “que a administração dos EUA quer colocar em confronto com o povo palestino e seus direitos”.
*com informações da Reuters