Uma história que começou em janeiro de 2023 finalmente chegou ao fim, nesta quinta-feira (5), em Campo Grande. Mãe e padrasto da menina Sophia Ocampo, Stephanie de Jesus e Christian Campoçano, foram condenados a 52 anos de prisão pelo assassinato da criança, à época com 2 anos e 7 meses de idade, vítima de violência.
O réu foi condenado a 32 anos de prisão pelos crimes de homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, meio cruel e contra menor de 14 anos, além de estupro de vulnerável. Da pena, 20 anos são pelo homicídio doloso, quando existe a intenção de matar, por motivo fútil e meio cruel. Os outros 12 anos foram somados pelo estupro de Sophia.
Já a ré foi condenada a 20 anos de prisão por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel, contra menor de 14 anos e homicídio doloso por omissão. O júri atendeu todas as teses do Ministério Público e da assistência de acusação. (Para rever a cobertura dos dois dias de julgamento, acesse os links abaixo)
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A sentença foi proferida às 20h47, após dois dias de julgamento na 2ª Vara do Tribunal do Júri. A decisão partiu do corpo de jurado composto por quatro homens e três mulheres e referendada pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos.
O pai de Sophia, Jean Ocampo, bem como o esposo, Igor Andrade, assumiram a difícil missão de reviver nas últimas 48 horas o momento mais doloroso de suas vidas.
Durante os depoimentos, os acusados não assumiram culpa. Stephanie alegou ter síndrome de Estocolmo, quando a vítima se apaixona pelo algoz, e relatou ter sido alvo de violência doméstica. Resumidamente, argumentou não ter feito mais devido ao desconhecimento do que ocorria com a filha quando estava fora.
A defesa chegou a apresentar laudo técnico assinado por psicólogo que, inclusive, foi ouvido como testemunha de defesa.
Já Christian tentou colocar toda a responsabilidade da morte de criança na mãe. Negou veementemente que batia na vítima, disse não ter presenciado a agressão que culminou no óbito da enteada e garantiu que nunca a estuprou. Chegou a dizer que considerava Sophia uma filha. A defesa de Christian também utilizou a tese de que a criança teria morrido após ter se machucado em casa.
A promotoria, no entanto, levou vídeos, prints e áudios que provaram o contrário de ambas as versões. Munidos de informações coletadas nos próprios celulares dos réus, os promotores de Justiça Lívia Guadanhim Bariani e Arturo Bobadilla desbancaram as defesas.
Passagem curta pela terra
Sophia teve uma breve passagem por este mundo. Viveu por dois anos e sete meses ao lado da mãe e tinha uma irmã, Stella, hoje com quase três anos.
A pequena, como foi massivamente lembrado nesses dias, teve mais de 30 atendimentos na mesma unidade de saúde que recebeu seu corpo sem vida naquele 26 de janeiro.
Tantos problemas de saúde decorrentes da rotina de violência a qual foi submetida por quem deveria guardar sua inocente infância.
A morte da menina causou à época uma série de reações. Isso porque o caso já havia traçado caminho desde conselho tutelar à Justiça, mas por falhas, não foi adiante o suficiente para poupar sua existência.
Também desencadeou realização de audiências públicas e atos que indicavam melhorias no sistema de proteção à criança e ao adolescente em Campo Grande.
Uma delas foi a união de forças para tirar do papel da Casa da Criança, que seria como uma extensão da Casa da Mulher Brasileira, complexo especializado em receber mulheres vítimas de violência doméstica. Mas, que até agora não saiu do papel.
Os réus
Stephanie e Christian passaram por pelo menos duas audiências de instrução antes do júri. Eles trocaram acusações e um culpou o outro pelo fatídico destino da pequena.
De lá para cá, o julgamento foi remarcado três vezes, sempre adiado por intercorrências na ação penal. Ambos estão presos desde o crime e foram condenados anteriormente por maus-tratos aos animais.