No alto das copas das árvores do Pantanal e da Amazônia mato-grossense, um rugido profundo ecoa pela mata, podendo ser ouvido a até 5 quilômetros de distância.
O responsável pelo som não é um grande felino, mas sim o bugio-preto (Alouatta caraya), o maior macaco que vive em Mato Grosso e um dos primatas mais barulhentos do planeta.
Com uma aparência robusta e uma impressionante capacidade vocal, o bugio-preto é um dos animais mais emblemáticos das florestas tropicais. Ouça:
Além de seu porte avantajado — com até 70 cm de comprimento e uma cauda que pode chegar a 80 cm —, ele se destaca por sua forma peculiar de se comunicar: um rugido grave e prolongado, emitido principalmente ao amanhecer e no entardecer, que serve para marcar território e afastar rivais.
Uma voz que domina a floresta
O som potente do bugio-preto vem de uma estrutura especial chamada osso hioide, localizada na garganta e ampliada em relação a outros primatas.
Essa adaptação funciona como uma espécie de câmara de ressonância, permitindo que os bugios amplifiquem seus chamados sem precisar gastar tanta energia.
De acordo com estudos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade de São Paulo (USP), o rugido dos bugios é tão eficiente que, em uma floresta densa, pode servir como um “radar natural”, ajudando os grupos a manter distância uns dos outros sem precisar de confronto direto.
Grandes e silenciosos (quando querem)
Apesar da fama de barulhentos, os bugios costumam ser macacos relativamente pacíficos.
Diferente de outros primatas, como os macacos-prego, que são muito ativos e sociáveis, os bugios têm um comportamento mais tranquilo, passando boa parte do dia descansando e se alimentando de folhas, frutas e flores.
Eles vivem em grupos de até 10 indivíduos, geralmente compostos por um macho dominante, algumas fêmeas e filhotes.
As fêmeas são menores e possuem uma coloração mais amarelada, enquanto os machos adultos apresentam pelagem preta intensa, o que dá origem ao nome popular da espécie.
Além do bugio-preto, outra espécie do gênero Alouatta, o bugio-vermelho (Alouatta juara), também ocorre em Mato Grosso, mas é mais comum em áreas densas da Amazônia.
Uma espécie ameaçada?
Embora o bugio-preto ainda seja encontrado em diversas áreas do Brasil, a destruição de seu habitat, especialmente no Pantanal e no Cerrado, representa um risco para suas populações.
O desmatamento e as queimadas afetam diretamente sua sobrevivência, já que dependem das copas das árvores para alimentação e locomoção.
Além disso, os bugios são frequentemente vítimas da febre amarela, doença que pode dizimar populações inteiras.
Como são muito sensíveis ao vírus, sua presença (ou ausência) em determinadas áreas tem sido usada como um alerta para surtos da doença.
Símbolo das florestas do Centro-Oeste
![bugio preto 2](https://media.primeirapagina.com.br/pp-prod-container/2025/02/bugio-preto-2-.jpg)
Os bugios são considerados indicadores ambientais, pois sua presença reflete o estado de conservação da floresta. Sempre que seu rugido ressoa pela mata, é um sinal de que aquele ambiente ainda guarda parte de sua biodiversidade original.
Estudiosos e ambientalistas destacam a importância de preservar esses primatas e seus habitats. O som do bugio é a trilha sonora das florestas intactas – e garantir que ele continue ecoando é essencial para a saúde dos ecossistemas de Mato Grosso.
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