Para além das soluções trazidas pela tecnologia, novos problemas também surgem. Um deles é a nomofobia, o medo irracional de ficar sem acesso a aparelhos eletrônicos, como o celular, por exemplo.
Dados do DataReportal mostram que 60,42% da população mundial tem acesso a smartphones, o que pode contribuir para o aumento desse transtorno – cujas consequências incluem ansiedade e depressão.
O Primeira Página conversou com o psicólogo e colunista Marcos Estevão, que explicou um pouco sobre o transtorno e como se livrar dele.
Causas e consequências da nomofobia
O termo nomofobia foi criado em 2009, no Reino Unido, e deriva do anglicismo “nomophobia” (no mobile-phone phobia), que significa “fobia de ficar sem celular”.
O transtorno está diretamente ligado ao aumento do uso de smartphones e ao fácil acesso à internet. Entre suas consequências, se destacam a ansiedade, depressão e isolamento, além de sintomas físicos, como dores de cabeça, desconforto nos olhos e problemas gastrointestinais.
Uso de smartphones no mundo
De acordo com um relatório do DataReportal, em 2024 havia aproximadamente 4,88 bilhões de usuários de smartphones no mundo, o que corresponde a 60,42% da população mundial. Esse número demonstra um crescimento anual de 14,9%, em relação aos anos anteriores.
Além disso, as projeções indicam que, até 2029, o número de usuários de smartphones pode chegar a 6,38 bilhões. Isso significa que o aumento do uso da tecnologia para comunicação pode estar diretamente relacionado ao crescimento da nomofobia.
Quando o uso do celular se torna preocupante?
Segundo o psicólogo Marcos Estevão, entre os sinais do uso excessivo do celular, é importante observar se a pessoa dedica muito tempo do seu dia ao uso do aparelho, pois isso pode afetar outras atividades do cotidiano.
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O profissional explica que o uso frequente do aparelho leva a pessoa a negligenciar suas responsabilidades, como a profissão, a vida acadêmica e a vida familiar.
“A interação vai deixar de ser a interação normal e passar a ser uma interação digital, ou seja, não haverá mais aquele encontro presencial“, afirmou o especialista.
Dependência ou uso saudável?
Para diferenciar a dependência do aparelho digital ao uso saudável da tecnologia, é necessário observar o controle de cada pessoa. O uso saudável, por exemplo, envolve indivíduos que têm controle sobre o tempo de tela, o utilizando de forma acadêmica ou até mesmo para lazer, mas de maneira equilibrada.
Já a dependência é caracterizada pela falta de controle, em que a pessoa tem sempre a sensação de urgência e verifica o celular constantemente.
Perfil de uma pessoa nomofóbica
Indivíduos com baixa autoestima, grande necessidade de aceitação social e traços de perfeccionismo têm maior propensão à nomofobia. Esse perfil é frequentemente encontrado em adolescentes de 14 a 16 anos, que cresceram em contato constante com a tecnologia.
Como prevenir a nomofobia?
Algumas estratégias podem ajudar a reduzir a dependência do celular e evitar o desenvolvimento da nomofobia:
- Desinstalar aplicativos que fazem você perder tempo;
- Evitar o uso do celular durante as refeições;
- Silenciar notificações para reduzir distrações;
- Definir horários específicos para checar o celular;
- Evitar olhar o celular enquanto conversa com outras pessoas;
- Carregar o celular fora do quarto, para não usá-lo antes de dormir;
- Sair de casa sem o celular sempre que possível.
Qual é o tratamento para nomofobia?
O tratamento para quem sofre de nomofobia é integrado e pode envolver, segundo o psicólogo Marcos Estevão, apenas o tratamento psicoterápico, além de algumas terapias específicas, como a terapia cognitivo-comportamental.
“Muitas vezes, é necessário até um tratamento psiquiátrico, que combina os cuidados psicológico e psiquiátrico”, afirmou.
Ele acrescenta que, durante o tratamento, será necessário “aprender a mudar os hábitos e estabelecer limites. O celular não pode ser utilizado em momentos como refeições, trabalho ou atividades acadêmicas, por exemplo.”
Por fim, o especialista destaca que, durante o tratamento, as atividades prioritárias devem ser valorizadas, e é importante tentar se afastar o máximo possível desse vício, processo que pode ser chamado de desintoxicação digital.