Em Guia Lopes da Laguna, cidade de pouco mais de 10 mil habitantes, no interior de Mato Grosso do Sul, um garotinho está fazendo história. Miguel — ou melhor, Miguelzinho, como é carinhosamente chamado — tem apenas 4 anos e já foi matriculado no primeiro ano do Ensino Fundamental, dois anos antes da idade mínima exigida pelo Ministério da Educação.
A conquista não foi simples! Para garantir o direito ao estudo compatível com sua capacidade intelectual, os pais recorreram à Defensoria Pública, que entrou com uma ação na Justiça. O motivo? Um laudo médico que revela o extraordinário: Miguel tem um QI de 132 — pontuação considerada “muito superior” — e foi diagnosticado com superdotação e altas habilidades, características que podem se manifestar inclusive em crianças dentro do espectro autista.
Filho de um bancário e de uma professora, Miguelzinho começou a surpreender muito cedo. Aos 12 meses, reconhecia letras e números. Um ano depois, lia placas, embalagens e nomes de países no mapa com a desenvoltura de quem já sabia o que estava fazendo.
A mãe, Walquíria de Souza, logo procurou ajuda profissional para entender o comportamento tão incomum do filho.
“A gente não sabia pra onde buscar, onde recorrer. No começo assim ficamos meio aflitos, mas tudo foi se encaminhando, as coisas foram se direcionando”, ressaltou a mãe.
O neuropsicólogo Ari Monteiro, explica que superdotação é uma condição rara, mas real. “Durante a primeira infância, isso pode ser reconhecido como uma precocidade no desenvolvimento da linguagem, uma memória muito excepcional, o interesse da criança por atividades de lógica, como quebra-cabeça, manejo de blocos com letras e números, que denotam uma facilidade muito grande”, explicou.
Bateria, livros e Mensa Brasil
E a genialidade de Miguelzinho não para nos livros. Ele também toca bateria — com técnica e ritmo impressionantes para a idade. O talento já o levou até a Mensa Brasil, a mais antiga e respeitada organização de alto QI do mundo, que reúne mentes brilhantes com pontuações acima do percentil 98.
Apesar de todo esse brilho, o caminho até a sala de aula não foi simples. A Secretaria Municipal de Educação negou o pedido de matrícula no ensino fundamental. Coube à defensora pública Andréa Pereira Nardon acionar o Judiciário, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente.
“Primeiro foi negado. A gente pegou essa negativa, a gente pegou esses laudos, passou por um neuro, ele passou por psicólogo. A própria escola verificou essas habilidades, e com base nesses elementos, a juíza se convenceu que se tratava de um caso de aceleração”.
Com a decisão judicial favorável, Miguelzinho finalmente pôde começar a jornada escolar no ensino fundamental, ao lado de colegas bem mais velhos, mas com os mesmos conteúdos e desafios.
Alerta
Segundo o neuropsicólogo Ari, a aceleração escolar pode trazer benefícios imensos, como autoestima elevada e estímulo cognitivo. Mas também exige cuidado. “Sempre que essas crianças passam por avaliação neuropsicológica, as famílias são recomendadas a fazer acompanhamentos com psicólogos. Existe risco de isolamento social, ansiedade social, ansiedade de desempenho e desregulações emocionais”, afirmou.