Após sentença de 136 anos de prisão de Edgar Ricardo de Oliveira, réu confesso da chacina de Sinop, a 504 km de Cuiabá – que deixou sete pessoas mortas em fevereiro de 2023 – a filha de Orisberto Pereira Sousa, uma das vítimas que morreu aos 38 anos, Gislene de Aquino Sousa comentou o sentimento após a sentença.
“Estávamos com uma ansiedade enorme, sem dormir nas últimas noites. A gente queria que ele pagasse da mesma forma por ter tirado a vida do meu pai e de outras seis pessoas. Dói. Eu, por ser filha única, tinha apenas meu pai presente pra mim e foi muito dolorido ver minha mãe, minha vó e, principalmente, a Raquel que perdeu o esposo e a filha. Não sei, mas acho que ele vai morrer lá (na cadeia) porque 136 anos é impossível viver. Pra gente, é um alívio, mas na cadeia ele vai comer e dormir, vai viver, diferente do que ele fez com as vítimas, mas achei que a justiça foi feita”, disse ela.
Edgar vai cumprir prisão em regime fechado, que foi fixada em 136 anos, 3 meses e 20 dias de reclusão, além de 30 dias/multa no valor de R$ 200 mil a ser pago às famílias da vítimas.
Edgar foi condenado por homicídios qualificados com as seguintes qualificadoras:
- Motivo torpe
- Meio cruel que resultou perigo comum
- Recurso que dificultou defesa das vítimas
- Agravante por homicídio contra menores de 14 anos
- Roubo majorado
- Uso de arma de fogo
- Furto
A defesa do réu foi feita pela Defensoria Pública Estadual. O julgamento foi transmitido em tempo real pelo Primeira Página, e você pode acessar os detalhes dos depoimentos de todas as testemunhas AQUI.
Ezequias Souza Ribeiro, que estava junto com Edgar durante o crime, morreu em confronto com a polícia.
Relembre o caso
Dois jogadores de sinuca, Ezequias Souza Ribeiro e Edgar Ricardo de Oliveira, perderam cerca de R$ 4 mil em apostas em jogos. Insatisfeitos, eles foram protagonistas de uma atrocidade que ficou conhecida nacionalmente como a Chacina de Sinop.
Tudo foi registrado por câmeras de segurança do estabelecimento (veja acima – imagens fortes). Ezequias, com uma pistola, pede para que algumas das vítimas fiquem de costas, viradas para a parede. Enquanto isso, Edgar pega uma espingarda calibre 12 mm na caminhonete e chega atirando nas vítimas.
Durante o julgamento, o representante do MP disse que “a prova grita, que o vídeo diz tudo pois revelou a crueldade do réu”. Conforme a acusação, o crime foi cometido por vingança após um jogo de bilhar. “Ele fez de forma consciente e deliberada” e é por isso que o MP entende que a qualificadora de crime contra a pessoa menor de 14 anos seja reconhecida”.
Algumas das vítimas foram atingidas pelas costas. Outras, entre elas a adolescente, tentaram correr e foram atingidas já fora do bar. Todo o crime é executado em menos de 12 segundos.
As vítimas foram identificadas como:
- Maciel Bruno de Andrade Costa – 35 anos.
- Orisberto Pereira Sousa – 38 anos
- Elizeu Santos da Silva – 47 anos
- Josué Ramos Tenório – 48 anos
- Adriano Balbinote – 46 anos
- Getúlio Rodrigues Frasão Júnior – 36 anos
- Larissa Frasão de Almeida – 12 anos, filha de Getúlio.
Entre as testemunhas estavam: Raquel Gomes de Almeida – que perdeu a filha, Larissa Frasão de Almeida, e o marido, Getúlio Rodrigues Frasão Júnior, no ataque.
Kelma Silva Santos de Costa, esposa de Maciel Bruno, uma das vítimas, falou presencialmente ao júri. Ele era dono do bar onde o crime ocorreu.
Depoimento do réu: “Ninguém morre de graça”
Durante o julgamento, Edgar afirmou que tinha problemas de relacionamento com algumas das vítimas, principalmente o dono do bar (Maciel Bruno).
“Sim, ninguém morre de graça. Cada um respondeu por si no momento do fato”.
Promotor – até a Laís? (menina de 12 anos atingida pelas costas)
Réu – “Não, a Laís foi um tiro acidental”.
O réu, Edgar, disse que apesar da amizade que mantinha com Bruno, ele acreditava que Bruno estava tramando contra ele. Que armava um assalto para o dia que ele teria dinheiro. Ele afirmou que tudo que aconteceu foi uma junção de vários fatos relacionados ao Bruno, com quem teve várias desavenças antes do crime. Ele frequentava o bar desde 2017.
Promotor – o senhor não se recorda do momento dos tiros?
Réu – Eu lembro, mas não me recordo em que momento eu perdi o controle.
“Agi no impulso da raiva, quando dei por mim já tinha feito tudo e minha raiva já tinha sido acesa antes”, disse Edgar.
“Quando dei por mim, estava na Gleba Mercedes. Não lembro do que aconteceu”, disse o réu.
Na hora do crime
“Começamos a jogar. Mas, eles começaram a fazer indiretas. Então, eu chamei o Ezequias para ir embora. Mas, ele sugeriu para eu cheirar cocaína. Não quis, mas ele me convenceu. Fui no banheiro e cheirei a cocaína. E voltou com a minha cabeça virada já, só ouvia as vozes. Mas, eu não tinha nada contra aquelas pessoas, algumas eu nem conhecia direito. Nunca fui um bandido”, disse Edgar.