A Argentina atingiu em 2024 a menor taxa de homicídios dolosos já registrada desde o início da publicação de estatísticas nacionais, no ano de 2000.
De acordo com dados preliminares divulgados pelo ministério da Segurança de Javier Milei, a quantidade de homicídios dolosos no ano passado foi de 3,8 para cada 100 mil habitantes. Em 2023, a taxa foi de 4,4 para cada 100 mil habitantes. Desde o início dos registros, o índice mais baixo tinha sido de 4,2 em 2022.
Ao todo, foram 1810 homicídios no ano passado, o que representa uma redução de 11,5% em relação a 2023, quando o número de vítimas chegou a 2046.
Segundo a pasta, 61% da redução foi registrada em Rosário, considerada até então a cidade mais violenta da Argentina por ter a maior taxa de homicídios do país. O ministério da Segurança não divulgou, no entanto, os índices por municípios para que seja possível um comparativo.
Rosário foi alvo de atenção de Milei logo no início do mandato. Logo que assumiu, em dezembro, a ministra da Segurança Patricia Bullrich lançou, em conjunto com o governador de Santa Fé, Maximiliano Pullaro, o Plano Bandeira, um programa em que forças federais atuam conjuntamente com apoiam as provinciais para combater a criminalidade.
A cidade de Rosário foi destaque nos noticiários em março do ano passado após dois taxistas, um motorista de ônibus e um frentista serem assassinados a sangue-frio e trabalhadores de diversos setores paralisarem atividades em uma mostra de indignação contra os crimes. Segundo o governo, os assassinatos foram recados das facções criminosas locais às autoridades contra o endurecimento da política carcerária.
Rosário, no entanto, fechou 2024 com uma redução de 65% nos homicídios, 53% nos feridos com arma de fogo, 20,3% nos roubos e 55,5% nos tiroteios, de acordo com o ministério de Bullrich.
Para Fernando Soto, diretor nacional de Normativa e contato com o Judiciário do ministério de Segurança, a melhora nos números se deveu a uma “decisão política”. “Essa decisão política estabelece a utilização dos recursos que existem de uma maneira decidida para combater os homicídios e todos os crimes, reconhecendo a importância das Forças de Segurança e aplicando a lei”, disse à CNN.
Além da presença das forças federais na cidade, ele relata que reforçaram a escolta de promotores e juízes federais que julgam traficantes, passaram a controlar permanentemente as zonas mais perigosas de Rosário onde antes não havia presença policial e a interceptar caminhões, ônibus e carros que entravam e saíam desses locais para procurar e confiscar drogas.
Mas para Ariel Larroude, ex-diretor de política criminal do ministério de Segurança, que atuou no governo de Alberto Fernández, os homicídios dolosos já vinham caindo nos últimos anos, mostrando que atualmente o maior problema na Argentina são os crimes contra a propriedades e consumo de substâncias ilícitas.
“Como esses mercados ilegais estão muito monitorados pelas forças de segurança, não se tornam mercados sangrentos como em outros países da América Latina”, explica Larroude, que é diretor da pós-graduação em Política Criminal e Delitos Complexos na Universidade de Buenos Aires.
Ele aponta ainda que as prevenções de homicídios dependem mais das políticas provinciais e não nacionais. “Isso não se deve tanto ao sucesso das políticas da administração de Javier Milei, mas do trabalho das próprias jurisdições locais que conseguiram conter, em um contexto político e econômico muito restritivo para os habitantes do país, as taxas de violência letal”, avalia.
Segundo Larroude, a queda dos homicídios em Rosário não responde somente ao Plano Bandeira. Ele explica que até 2024, a cidade tinha uma polícia desorganizada que não respondia a cargos hierárquicos, mas com a mudança da administração provincial, o novo governador reestruturou a polícia, destinando a arrecadação da perseguição ao tráfico à própria força.
O especialista aponta, ainda, a necessidade de analisar os dados em províncias como a de Buenos Aires e Córdoba. “Em 2024, nós soubemos a cada dia de diferentes episódios de violência letal contra pessoas inocentes e, inclusive, forças de segurança. Então, esse dado é chamativo” aponta.
Ainda assim, ele considera que o dado nacional é “um índice muito alentador em termos de política criminal” e que “fala muito bem do país.”