Novas imagens das câmeras de monitoramento do mercado Oxxo, na Avenida Cupecê, no bairro Jardim Prudência, zona Sul de São Paulo, mostram que Gabriel Renan da Silva Soares foi executado pelas costas pelo policial militar Vinicius de Lima Britto, em 3 de novembro deste ano.
A versão inicial apresentada pelo PM era de que o jovem teria feito menção de estar armado, o que, na versão dele, justificaria os disparos. Um atendente do mercado corroborou essa narrativa, alegando que Gabriel teria dito: “Não mexe comigo, que estou armado, não quero nada do que é seu.”
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Entretanto, as novas imagens mostram que o jovem, que havia acabado de furtar itens de limpeza, escorregou quando tentou sair correndo do mercado e que em nenhum momento fez menção de estar armado. Nas imagens, também é possível concluir que não houve diálogo, e que o policial acertou a vítima pelas costas.
Segundo a polícia civil, Soares foi atingido por 11 tiros. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que o policial militar está afastado das atividades operacionais, e que o caso segue sob investigação pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). As imagens mencionadas foram captadas, juntadas aos autos e estão sendo analisadas para auxiliar na apuração dos fatos.
Ainda em nota, a SSP reforçou que “familiares da vítima foram ouvidos e diligências estão em andamento para identificar e qualificar a testemunha que esbarrou na vítima durante sua fuga do estabelecimento comercial, momentos antes de ser alvejado. A Polícia Militar acompanha as investigações, prestando apoio à Polícia Civil. Caso as apurações apontem para a responsabilização criminal do policial militar, medidas administrativas serão adotadas, incluindo a possibilidade de processo disciplinar que poderá resultar na sua exclusão da Instituição.”
Reprovação em teste psicológico
O policial militar Vinicius de Lima Britto, 24 anos, que executou Gabriel Renan da Silva Soares, 26, com 11 tiros em um mercado Oxxo, na Zona Sul de São Paulo, já havia sido reprovado em um exame psicológico ao tentar ingressar na Polícia Militar pela primeira vez. A avaliação, realizada durante um concurso público para soldado de 2ª classe, em 2021, apontou problemas de sociabilidade e descontrole emocional.
Apesar da reprovação inicial, Britto conseguiu entrar na corporação no mesmo ano, após ser aprovado em um segundo concurso. Nesse intervalo, ele chegou a entrar com um mandado de segurança contra o resultado do primeiro teste, alegando subjetividade na análise, mas a Justiça negou o pedido e o processo foi extinto.
A CNN teve acesso ao laudo reservado que detalha os motivos da primeira reprovação. O documento de nove páginas afirma que Britto apresentou “inadequação aos parâmetros exigidos no perfil psicológico estabelecido para o cargo”.
Entre os pontos críticos, os especialistas apontaram dificuldade de sociabilidade e instabilidade em relações interpessoais. “Tais características contraindicam o candidato para o cargo, pois poderão comprometer sua capacidade de perceber e reagir adequadamente às demandas da função”, afirma um trecho do laudo.
Dois psicólogos que assinam o documento ainda destacaram que Britto tem uma personalidade instável, com maior aptidão para atividades em ambientes calmos. “Isso tende a dificultar a manutenção e o cumprimento de suas obrigações conforme esperado”, detalha o relatório.
Outro aspecto apontado que justifica a decisão dos médicos foi a tendência ao descontrole emocional, “tendendo a agir fortemente por meio de condutas instáveis e imprevisíveis, com propensão ao desequilíbrio fisiológico e psicológico, podendo agir sem tanta reflexão diante de situações inesperadas“, diz outro trecho.
A execução de Gabriel Renan da Silva Soares, morto pelas costas ao tentar sair de um supermercado após furtar produtos de limpeza, não foi o único episódio letal envolvendo o policial militar Vinicius de Lima Britto. O jovem de 26 anos não esboçou reação nem fez menção de estar armado, como inicialmente alegado pelo PM.
Conforme o boletim de ocorrência, a moto utilizada pelos supostos assaltantes era roubada. Um deles foi atingido e morreu no local; o segundo tentou fugir, mas também morreu a cem metros do local onde foi alvejado. A suposta arma que teria sido usada pelos suspeitos nunca foi encontrada. Britto justificou os disparos como legítima defesa, mas o caso segue em andamento no Tribunal de Justiça de São Paulo.
Afastamento
Conforme revelado pelo portal “O joio e o trigo” e confirmado pela CNN com base em documentos judiciais, em dezembro do ano passado, Britto esteve envolvido em outro caso com desfecho fatal, desta vez em São Vicente, litoral paulista. Segundo sua versão, ele estava em um carro com a namorada, enquanto outro militar, amigo dele, estava de moto com a namorada.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o policial foi afastado das atividades operacionais após executar Gabriel e que caso as apurações apontem para a responsabilização criminal do policial militar, medidas administrativas serão adotadas, incluindo a possibilidade de processo disciplinar que poderá resultar na sua exclusão da Instituição.
A reportagem também questionou o fato do militar ter sido reprovado e aprovado em exames psicológicos semelhantes no espaço de um ano e aguarda retorno.