Nataly Helen Martins Pereira, de 25 anos, a mulher que confessou ter assassinado a adolescente grávida Emilly Sena, de 16 anos, para roubar seu bebê, vai responder pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver, segundo a Polícia Civil.
Ela está presa em uma cela individual na Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May, em Cuiabá, desde o dia 13 de março.
A Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu nesta segunda-feira (24) o inquérito policial. A autora do crime foi indiciada por homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, asfixia, meio cruel e dissimulação), ocultação de cadáver, registro de parto alheio como próprio e uso de documento falso.
As investigações revelaram que a autora simulou uma gravidez por meses, enganando familiares com exames falsos e fotos adulteradas.
Provas periciais confirmam as qualificadoras do crime, incluindo marcas de asfixia e um corte abdominal. O exame de necropsia da Politec constatou que a vítima morreu por choque hipovolêmico hemorrágico após grandes ferimentos no abdômen para a retirada do feto, e que a vítima estava viva durante a retirada do bebê.
A vítima também apresentava lesões contundentes na face e sinais de contenção com cabos de internet.
Investigação de outros suspeitos
O delegado Michael Mendes Paes informou que um inquérito complementar foi instaurado para apurar a possível participação do marido, irmão e amigo da autora. A autora confessou o crime, alegando que agiu sozinha com o objetivo de ficar com o bebê.
Nataly é mãe de três filhos, e seu marido chegou a ser detido no dia do crime, mas foi posteriormente liberado. Ela foi presa 13 de março.
O caso, de extrema crueldade e brutalidade, causou indignação e comoção na população de Mato Grosso, e ganhou destaques em veículos da imprensa de diversos países, como Estados Unidos, Argentina, México, Índia e Austrália.

Desaparecimento
No dia 12 de março, Emilly desapareceu após sair de sua casa, em Várzea Grande, com destino a Cuiabá, onde buscaria roupas doadas para a bebê. No mesmo dia, ao final da tarde, um casal compareceu ao Hospital Santa Helena solicitando uma declaração de nascimento para uma recém-nascida. Eles disseram que o parto havia ocorrido em casa.
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Os médicos solicitaram exames da suposta mãe, que inicialmente recusou, levantando suspeitas. Após insistência, ela realizou os procedimentos, que constataram a ausência de sinais de parto recente, como a produção de leite materno.
O casal foi conduzido à Central de Flagrantes, enquanto a criança permaneceu sob cuidados médicos.
Imagens das câmeras de segurança do hospital, que o Primeira Página teve acesso exclusivo, mostram o momento que Nataly chegou a unidade com a criança, na tarde de quinta-feira, para tentar fazer o registro.
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A localização do corpo
Na delegacia, os policiais fizeram o interrogatório do casal. A mulher reafirmou que o parto ocorreu com ela sozinha, na casa do irmão.
Desconfiados, os policiais se dirigiram à casa indicada pela mulher, no bairro Jardim Florianópolis. Nos fundos da propriedade, encontraram um corpo enterrado em uma cova rasa, com as pernas expostas e o abdômen aberto. Imediatamente, foi identificado que o cadáver era Emilly Azevedo.
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Suspeitos e primeiras prisões
Nataly e o namorado, o chef de cozinha Christian Albino Cebalho de Arruda, de 28 anos, foram os primeiros detidos, quando estiveram no hospital, apontados como responsáveis pela morte.

Na manhã de quarta-feira, antes da prisão, Christian publicou a foto de um bebê em uma rede social, o que levantou fortes suspeitas de seu envolvimento no crime.
Na residência onde o corpo de Emilly foi encontrado, o irmão de Nataly, Cícero Martins Pereira Júnior, e o cunhado da autora, Alédson Oliveira da Silva, foram presos. Os dois haviam limpado o sangue espalhado pela casa após Nataly informá-los sobre o falso parto natural.
Nataly também usou do sangue de Emilly para fingir que era do seu parto.
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Modus operandi
Nataly tinha engravidado, mas perdeu a criança em setembro de 2024. No entanto, ela manteve a falsa gravidez. Nas redes sociais, ela compartilhou diversos registros do período que esteve gestante, como o chá de revelação do sexo da criança.
Para manter a falsa gravidez, Nataly começou a procurar mulheres grávidas que desejassem doar o bebê após o parto. Vídeos encaminhados à TV Centro América mostram uma das tentativas de Nataly.

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Por não conseguir encontrar alguém que quisesse doar a criança, Nataly chegou até Emilly por meio de grupos de mensagens na internet com a promessa de doar roupas.
Nataly pagou uma corrida de aplicativo para Emilly ir até sua casa, no Jardim Florianópolis. Lá, ela matou a adolescente.
Depoimentos e detalhes do crime
Além dos quatro detidos, outros familiares e amigos, tanto da vítima quanto da autora do crime, foram conduzidos à delegacia para prestar depoimento.
O pai de Nataly garantiu que ela agiu sozinha e envolveu outros familiares.
No depoimento, Nataly confessou que assassinou sozinha Emilly. Ela atraiu a jovem com a promessa de doar roupas para a criança que iria nascer. Sem demonstrar arrependimento, a mulher contou com riqueza de detalhes como matou a adolescente.

Segundo o depoimento, Nataly abordou Emilly pelas costas, aplicando um golpe conhecido como “mata-leão” enquanto ela estava sentada em uma cadeira.
Com Emilly desacordada, Nataly usou um fio de internet para amarrá-la e arrastou a vítima até um quarto, onde iniciou a retirada do bebê. A suspeita afirma que acordou a jovem e disse que “iria cuidar da criança”.
A criança foi arrancada de Emilly enquanto ela ainda apresentava sinais vitais.
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Velório e repercussão
O velório de Emilly ocorreu na manhã de sexta-feira (14), na Funerária Capelas Jardins, em Cuiabá. Tristeza e revolta marcou o último adeus a jovem.
Família, amigos e colegas carregavam cartazes com frases de ordem justiça.

Nas redes sociais, muitas pessoas também publicaram suas indignações diante do assassinato cruel.
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A Prefeitura de Cuiabá e o Governo de Mato Grosso lamentaram a morte da jovem. A Escola Estadual Professora Elizabeth Maria Bastos Mineiro, onde Emilly estudava também decretou luto.
Emilly foi sepultada no Cemitério Parque Bom Jesus Cuiabá.
Vida de Emelly e o futuro da recém-nascida
Uma jovem feliz, carinhosa, estudante do primeiro ano do ensino médio, que aguardava ansiosa a chegada de sua filha. Assim, Emilly foi descrita pelos familiares e amigos que conviveram em ela.
No dia 10 de março, a adolescente tinha ido à escola buscar as atividades que faria durante o período de licença maternidade.
A recém nascida foi registrada com nome Liara e vive com o pai e avó materna.
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Especialista aponta psicopatia em assassina
O psiquiatra forense Guido Palomba, referência nacional na área, analisou o caso de Nataly Helen. Ao Primeira Página, o especialista afirmou que a autora do crime apresenta traços de psicopatia, destacando a frieza e a brutalidade do ato.

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