O pedido da Justiça para que a Polícia Federal (PF) investigue um soldado israelense em solo brasileiro gerou um furor entre os políticos de Israel.
O líder da oposição israelense, Yair Lapid, disse: “O fato de um soldado da reserva israelense ter que fugir do Brasil no meio da noite para evitar ser preso por lutar em Gaza é uma falha política monumental de um governo que é simplesmente incapaz de funcionar.”
Lapid, que chegou a ser premiê do país em 2022, questionou “como chegamos ao ponto em que os palestinos são melhores que o governo israelense na arena internacional”.
“Não pode ser que os soldados das FDI – regulares e de reserva – tenham medo de viajar para o exterior por medo de serem presos”, concluiu.
O chanceler do governo israelense, Gideon Saar, retrucou dizendo que “Lapid, o charlatão, sabe muito bem que tais casos também aconteceram durante o seu mandato”.
Saar acrescentou que “até Lapid sabe que o que estamos testemunhando é uma campanha sistemática e antissemita que visa negar o direito de Israel à autodefesa”.
“Inúmeros atores internacionais e muitos países são cúmplices disso”, continuou o chanceler, que chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “antissemita”.
Lapid fez uma tréplica dizendo que o chanceler “tem muito tempo para escrever comentários infantis sobre questões sérias”.
“Em vez de proteger nossos soldados que são perseguidos no mundo, sugiro que, em vez disso, você faça o seu trabalho, para variar”, completou.
Justiça pede que PF investigue soldado
O pedido de investigação do soldado em solo brasileiro veio de uma determinação da Justiça Federal. A investigação será conduzida pela PF, com pedidos de diligências do Ministério Público Federal (MPF).
A determinação é da juíza federal Raquel Soares Charelli, datada de 30 de dezembro de 2024, com despachos em 3 de janeiro para envio de material à PF.
O pedido inicial de investigação foi feito por meio de uma notícia-crime formulada pelos advogados Maira Machado Frota Pinheiro e Caio Patrício de Almeida, que alegaram que Yuval Vagdani, cidadão israelense e possível “criminoso de guerra”, encontra-se em território nacional e que, por isso, o Estado brasileiro, como signatário de tratados internacionais, como a Convenção de Genebra e o Estatuto de Roma, tem o dever de reprimir tais crimes, mesmo que tenham sido cometidos fora do território nacional.
A suspeita inicial é que o israelense estaria em Morro de São Paulo, na Bahia, e, por isso, o caso começou a tramitar no estado. No entanto, foi repassado ao Distrito Federal por questões legais.
A juíza plantonista da comarca de Salvador, após parecer do MPF, enviou o caso para Brasília com fundamento no art. 88 do Código de Processo Penal. O artigo estabelece que, para crimes cometidos fora do território brasileiro, a competência é da capital do estado onde o acusado residiu por último.
Soldado deixou o país com ajuda do governo de Israel
O Ministério das Relações Exteriores de Israel disse, neste domingo (5), que “após uma tentativa no último fim de semana por elementos anti-israelenses de investigar um soldado israelense dispensado que visitou o Brasil, o ministro das Relações Exteriores Gideon Saar imediatamente ativou o Ministério das Relações Exteriores para garantir que o cidadão israelense não estivesse em perigo”.
A embaixada israelense no Brasil garantiu “sua partida rápida e segura do Brasil”.
O Ministério das Relações Exteriores acrescentou que chamou a atenção dos israelenses “para postagens feitas por eles nas redes sociais sobre seu serviço militar e para o fato de que elementos anti-israelenses podem explorar essas postagens para iniciar processos legais infundados contra eles”.
O Comitê de Relações Exteriores e Segurança do parlamento israelense, o Knesset, discutirá as ações que estão sendo tomadas contra soldados israelenses ao redor do mundo na segunda-feira.