A Polônia iniciou seu período na presidência do Conselho da União Europeia nesta sexta-feira (3), e já se encontra em uma disputa diplomática com a Hungria que ressaltou um sentimento cada vez mais profundo de desunião política em toda a Europa, no momento em que o continente enfrenta uma série de grandes desafios globais.
Com uma economia lenta, a UE está se preparando para o retorno de Donald Trump à Casa Branca neste mês com uma plataforma “America First” (Estados Unidos em primeiro lugar) e uma possível imposição de tarifas norte-americanas sobre exportações europeias.
A UE também precisa lidar com a deterioração das relações comerciais com a China e a guerra violenta da Rússia na Ucrânia – tudo isso em um momento em que as duas principais potências do bloco, a França e a Alemanha, estão distraídas com agitações políticas internas.
O governo polonês disse que o enviado da Hungria não era bem-vindo em uma cerimônia para marcar a posse de Varsóvia na presidência rotativa de seis meses da UE, uma afronta pública que se segue a meses de troca de farpas políticas entre os líderes dos dois países.
A Hungria causou insatisfação na Polônia no mês passado ao conceder asilo político a um ex-vice-ministro da Justiça polonês que está sendo investigado em seu país por suposto uso indevido de fundos públicos, o que ele nega. Varsóvia classificou a medida como um “ato hostil” contrário aos princípios da UE e chamou de volta seu embaixador em Budapeste.
O ministro das Relações Exteriores da Hungria, Peter Szijjarto, descreveu o desdém desta sexta-feira como “infantil”, segundo o site de notícias HVG.
O desentendimento apenas se somou a sinais crescentes de desarmonia europeia.
A Eslováquia, que junto com a Hungria tem procurado manter laços com a Rússia, ameaçou retaliação contra a Ucrânia na quinta-feira (2), após o país interromper os fluxos de trânsito do gás russo. Já na sexta-feira, negociações para a formação de um novo governo na Áustria sofreram um duro golpe quando um partido importante abandonou as negociações.
Ambições polonesas
Diante desse cenário sombrio, a Polônia está buscando um papel de liderança na formulação da política europeia, especialmente em relação à segurança.
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, espera “liderar um realinhamento na UE para construir uma coalizão em torno do apoio à Ucrânia e de uma paz significativa que beneficie Kiev, e não Moscou”, disse Edit Zgut-Przybylska, professora assistente do Instituto de Filosofia e Sociologia da Academia Polonesa de Ciências.
Tusk, ex-presidente do Conselho Europeu que anteriormente também atuou como chefe do Partido Popular Europeu, de centro-direita, é uma figura bem relacionada no cenário da UE.
Mas como as capitais europeias enfrentam decisões difíceis sobre questões como reforço e financiamento de gastos com defesa, os analistas afirmam que é improvável que Varsóvia seja capaz de liderar sozinha.