Professora ensina alunos a valorizarem riquezas dos assentamentos de MS


Um trauma, em meio à rotina corrida de Campo Grande, fez a professora Williane Bento da Silva “jogar tudo para o alto” e se mudar para o Assentamento Patagônia, em Terenos, a 58 quilômetros da capital. Lá, ela encontrou a paz e um novo propósito: ensinar os alunos a valorizarem a qualidade de vida que só o campo pode proporcionar.

Alunos durante uma das atividades do projeto. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para isso, ela incorporou à grade curricular dos estudantes atividades que prestigiam a cultura das comunidades rurais, o trabalho árduo e as histórias dos pequenos produtores.

Batizado de “Meus Valores Culturais”, o projeto educacional de Williane nasceu da vontade da professora de mudar a percepção dos alunos sobre o local onde vivem.

“Eu queria mostrar o que tem de bom para os alunos permanecerem no campo, porque, às vezes, eles se sentem desmotivados. O campo não tem esporte, não tem muitos atrativos. Então, eu quis mostrar as possibilidades que existem, para que eles também queiram permanecer aqui. É através da valorização das famílias, da agricultura familiar, do que eles têm de rico, de beleza, que eu vou estimular para que eles também permaneçam mais no campo.”

Williane Bento da Silva, professora.

Design sem nome 2024 11 11T190931.910
Alunos durante uma das atividades do projeto. (Foto: Arquivo Pessoal)

Recomeço

Williane se mudou para a região e descobriu os benefícios da vida no campo após passar por um momento delicado. À época, ela era concursada do governo do estado, dava aulas em Campo Grande e tinha uma vida estabilizada, mas bastante atarefada, até que um acidente de trânsito a obrigou a desacelerar.

Williane foi atingida por um veículo enquanto pilotava uma motocicleta e ficou seis meses em uma cadeira de rodas.

“Minha vida estava muito corrida e eu percebi que não era aquilo que eu queria. Por isso, eu resolvi me mudar para cá, que é bem mais tranquilo. Na época, meu filho caçula tinha problemas de asma, bronquite, laringite, então, eu decidi me mudar para o assentamento, que é mais tranquilo e o ar à noite é muito mais fresquinho. Eu decidi dar qualidade de vida para mim e para minha família, pedi exoneração do Estado e vim para cá.”

Williane Bento da Silva, professora.

Design sem nome 2024 11 11T191029.577
Alunos durante entrevista com moradora de assentamento. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na época, Williane levou até o pai e a irmã para morar na região de Terenos. Lá, ela recomeçou a vida profissional, dando aulas para estudantes da zona rural. Em agosto deste ano, a professora decidiu colocar em prática o projeto de valorização cultural dos assentamentos.

Participam alunos do 6º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio, das escolas Escola Municipal Salustiano da Motta e Escola Antônio Valadares, Extensão Patagônia, em Terenos.

Cada ano letivo desenvolve atividades relacionadas aos oito assentamentos da região de Terenos: Campo Verde, Patagônia, Nova Querência, Paraíso, Santa Mônica, Guaicuru, Canaã e Assafur.

Design sem nome 2024 11 11T191055.840
Entrevista com os representantes de cooperativa que representa pequenos produtores. (Foto: Arquivo Pessoal)

As atividades abordam aspectos da vida cotidiana das famílias assentadas, seus costumes, origens e a forma como lidam com a terra.

Os alunos do sexto ano do Ensino Fundamental, por exemplo, desenvolveram adubo orgânico à base de casca de ovos, pó de café e carvão vegetal. No 7º ano, o trabalho envolve o cultivo de mudas de árvores do Cerrado e a produção de geladinhos de frutas como jatobá, cumbaru e bocaíuva.

Confira outras atividades do projeto “Meus Valores Culturais”:

  • 8º ano do Ensino Fundamental – Levantamento histórico de como as famílias chegaram aos assentamentos, com produção de banners, cartazes, fotos antigas, etc.
  • 9º ano do Ensino Fundamental – Produção de pratos típicos da região sul-mato-grossense: frango com guerova, arroz com pequi; cultivo de mudas de hortaliças e ervas aromáticas, como arruda, camomila, erva-doce, hortelã.
  • 1º ano do Ensino Médio – Representação e maquete das agrovilas da região, incluindo esquema cartográfico dos assentamentos, principais estradas e pontos de referência.
  • 2º ano do Ensino Médio – Reportagens com os moradores, produção de vinhetas para rádio local, divulgação do evento, convites.
  • 2º ano do Ensino Médio – Coleta de entrevistas audiovisuais com as famílias mais antigas do primeiro assentamento; execução de gráficos representando as principais fontes de renda dos assentamentos, como produção de leite e agricultura familiar.

As atividades envolvem cerca de 235 alunos desde agosto e culminarão em um evento no próximo dia 22 de novembro, quando serão apresentados os resultados do trabalho.

Design sem nome 2024 11 11T191044.514
Alunos durante entrevista com morador de assentamento. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Tem sido uma experiência muito boa porque vemos o envolvimento dos alunos, dos pais, das famílias e a parceria da comunidade como um todo.”

Williane Bento da Silva, professora.

Williane espera que o projeto ajude a aumentar o interesse dos alunos pelas comunidades e a reconhecer o potencial econômico dos assentamentos. No futuro, ela planeja escrever um livro contando as histórias dos assentamentos.

Design sem nome 2024 11 11T190949.235
Alunos que participam do projeto. (Foto: Arquivo Pessoal)





Fonte do Texto

VEJA MAIS

Quem é RFK Jr., ativista antivacina que comandará Saúde em governo Trump

O presidente eleito americano Donald Trump anunciou, nesta quinta-feira (14), a indicação de Robert F.…

Homem que pilotava moto é atingido por raio e morre em MG

Um homem de 45 anos morreu após ser atingido por um raio na cidade de…

Sauvignon Blanc só combina com peixe? É um vinho só para o dia?

Você que não é do mundo dos vinhos, ou que poucas vezes provou a bebida,…