Quem foi Eunice Paiva, símbolo contra ditadura vivido por Fernanda Torres


Nesta segunda-feira (9), o filme Ainda Estou Aqui conseguiu mais um feito histórico para o cinema nacional: foi indicado em duas categorias do Globo de Ouro, considerado uma das prévias do Oscar, o maior prêmio da sétima arte mundial.

De um lado, Fernanda Torres e do outro, Eunice Paiva, quando era viva. (Foto: Reprodução)

No longa, Fernanda Torres, também indicada na categoria de Melhor Atriz da competição, interpreta Eunice Paiva, uma personagem histórica do Brasil, que agora recebeu o reconhecimento merecido.

Se você ainda não assistiu ao filme, vale a pena conhecer um pouco mais sobre a trajetória de luta de uma das mulheres mais emblemáticas da nossa história, para entrar na sala de cinema mais inteirado sobre quem é Eunice Paiva.

Uma vida de luta

Paulista e de família italiana, Eunice Paiva cresceu no bairro do Brás, em São Paulo. Amante da literatura, ela teve que bater de frente com o próprio pai para conseguir estudar e passou em primeiro lugar no vestibular para Letras na tradicional universidade Mackenzie, aos 18 anos.

A vivência acadêmica fez com que ela se aproximasse de grandes nomes da nossa literatura, como Lygia Fagundes Telles, Antonio Callado e Haroldo de Campos. Foi a partir de uma tragédia pessoal, o desaparecimento do marido e deputado Rubens Paiva, durante a ditadura, em janeiro de 1971, que Eunice ganhou notoriedade como uma importante voz contra o regime.

Depois que o marido foi levado de casa pelos militares, Eunice Paiva se tornou uma das vozes mais atuantes na busca por informações sobre o paradeiro de seu marido.

Na ocasião, Eunice também foi presa junto à filha Maria Eliana Paiva, de apenas 15 anos, e levada para as dependências do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), órgão subordinado ao Exército carioca.

Eliana foi solta 24 horas após a prisão; já Eunice ficou encarcerada por 12 dias, sendo interrogada. Com Rubens, ela teve outros quatro filhos: Marcelo Rubens Paiva, Vera Paiva, Ana Lúcia Paiva e Maria Beatriz Paiva.

Após ser solta da prisão, ela exigiu a verdade sobre o marido, fato confirmado oficialmente em 1996, após 25 anos de luta pela verdade. Apesar da confirmação, Eunice conseguiu do Estado brasileiro apenas o atestado de óbito de Rubens Paiva. Eunice nunca conseguiu descobrir onde o corpo do marido estava enterrado para se despedir.

Em 1973, ela se tornou advogada e ficou conhecida pelo engajamento em lutas sociais e políticas. Eunice combateu a política indigenista do regime até o final da ditadura, tornando-se uma das poucas especialistas em direito indígena do país.

Em 1987, ela esteve à frente da fundação do IAMA (Instituto de Antropologia e Meio Ambiente), ONG que atuou até 2001 na defesa e autonomia dos povos indígenas.

Em 1988, foi consultora da Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou a Constituição Federal Brasileira. Eunice foi uma das principais forças de pressão que culminaram com a promulgação da Lei 9.140/95, que reconhece como mortas as pessoas desaparecidas em razão de participação em atividades políticas durante a ditadura militar.

Ela partiu aos 86 anos, no dia 13 de dezembro de 2018, em São Paulo, após 14 anos convivendo com Alzheimer.

A trajetória de luta e resistência de Eunice começou a ser conhecida pelo grande público a partir de 2015, quando o filho dela, o escritor Marcelo Rubens Paiva, lançou o livro Ainda Estou Aqui. Baseado no livro, o filme de mesmo nome tem sido aclamado desde o lançamento, em novembro.

A obra já venceu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza e melhor atriz na seção Latino Cinema & Television do Critics Choice Awards. A carreira internacional da obra segue triunfal. Com as indicações nas categorias de melhor filme internacional e atriz no Globo de Ouro, Ainda Estou Aqui se consolida como uma das principais apostas do Oscar 2025.



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