Relembre como foi a presidência de Donald Trump

CNN Brasil


Donald Trump foi presidente dos Estados Unidos entre 2017 e 2021. Depois de perder para Joe Biden, o republicano tenta voltar ao cargo mais alto na Casa Branca.

Sua presidência foi marcada por medidas controversas, encontros polêmicos, bons resultados na economia e a pandemia da Covid-19.

Relembre os principais momentos:

Investigação sobre interferência russa na campanha

Uma investigação sobre uma possível ligação entre a campanha de Trump com o governo da Rússia permeou a administração do republicano.

Logo nos primeiros meses de governo em 2017, o diretor do FBI anunciou que a organização havia aberto uma investigação sobre o caso, que buscava averiguar se Trump “estava trabalhando em favor da Rússia e contra os interesses dos americanos”.

As provas sugeriam que oficiais russos vazaram dados de Hillary Clinton – adversária de Trump na eleição presidencial de 2016 – e outros democratas para a campanha do republicano.

Donald Trump (E) e Hillary Clinton no segundo debate presidencial de 2016
Donald Trump (E) e Hillary Clinton no segundo debate presidencial de 2016 • Foto: Barbara Kinney – 9.out.2016/ Hillary for America

Em julho de 2018, Trump se reuniu com o presidente russo Vladimir Putin e se pronunciou sobre o caso: “Eu confio muito no pessoal dos meus serviços de inteligência, mas vou dizer que Putin foi muito categórico ao dizer hoje que não [houve interferência da Rússia nas eleições americanas em 2016].”

Em 2019, o procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, divulgou uma carta com suas principais conclusões sobre as investigações e disse que as evidências não foram suficientes para estabelecer que integrantes da campanha de Trump estavam envolvidos em uma conspiração criminosa com o governo da Rússia para interferir nas eleições presidenciais em 2016.

Rompimento de acordos

Trump também ficou conhecido por sair de acordos e tratados internacionais importantes durante sua administração.

“O governo Trump tem uma postura como se fosse um regresso ao século 17 em termos de soberania. Ele vê os foros multilaterais com muita desconfiança”, afirma Priscila Caneparo, doutora em Direito Internacional e professora da Universidade Católica de Brasília e da Ambra University.

Logo nos primeiros dias no cargo, Trump assinou uma ação executiva retirando os Estados Unidos da Parceria Transpacífica, um acordo comercial entre 12 nações negociado pelo mandato de Barack Obama.

Ainda no primeiro ano de governo, Trump tirou o país do Acordo de Paris, que estabelece uma série de medidas ambientais.

“O acordo de Paris, especificamente, foi visto de uma maneira muito significativa em relação ao mercado, principalmente ao mercado da costa leste dos EUA e ao Vale do Silício. Porque ambos são mercados que demandam muito de exportação”, disse Caneparo.

Dessa maneira, as empresas que quisessem continuar negociando com a União Europeia, por exemplo, tinham que seguir as regras do acordo mesmo assim.

Uma das decisões mais polêmicas foi quando Trump tirou os Estados Unidos do Acordo Nuclear com o Irã. “Esse foi um terrível acordo parcial que nunca, nunca, deveria ter sido feito”, declarou o republicano na época.

Para Caneparo: “Essa política de desconfiança faz com que nós entendamos até o slogan da campanha “Make America Great Again” (“Faça a América Grande Novamente”, na tradução livre para o português). Basicamente é a América se fechar dentro de si”.

Lucas de Souza Martins, professor da Temple University, destaca que o “rompimento destes acordos é um claro indicativo do distanciamento de Donald Trump com relação à União Europeia e até mesmo potenciais ambientais latino-americanas, como Colômbia e Brasil”.

Esse tipo de política, que pode ser retomada em caso de vitória neste ano, também distância os Estados Unidos de acordos e projetos ambientais: “É uma clara sinalização do favorecimento a um modelo econômico mais próximo e dependente de fontes fósseis de energia, por exemplo, do que necessariamente em opções ligadas à economia verde”, disse Martins.

Visita à Coreia do Norte

Encontro entre Donald Trump e Kim Jong Un
• Foto: Instagram/ Donald Trump/ Reprodução

Logo no primeiro ano de governo, Trump respondeu a ameaças nucleares vindas da Coreia do Norte, e fez um alerta a Pyongyang: “enfrentará fogo e fúria como o mundo jamais viu”.

Pouco depois dos comentários do então presidente, a Coreia do Norte lançou um comunicado dizendo que estava “examinando o plano operacional” para atacar áreas ao redor do território americano de Guam.

Em discurso na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Trump chamou o líder norte-coreano de “homem do foguete” e alertou que os Estados Unidos “destruirão completamente” a Coreia do Norte se forçados a se defender ou a seus aliados.

“Se [os Estados Unidos] tiverem de se defender ou a seus aliados, não teremos escolha a não ser destruir totalmente a Coreia do Norte (…) O homem-foguete está em uma missão suicida para si e para o seu regime”, disse Trump.

Mas as ameaças de ataque não passaram de palavras de fúria. Em junho de 2018, Trump se encontrou com Kim Jong-Un pessoalmente pela primeira vez em uma reunião em Cingapura.

Eles assinaram um estatuto que delineou o compromisso dos dois países em direção a um processo até a paz. O documento continha uma promessa da Coreia do Norte em “trabalhar em direção” a completa desnuclearização das armas.

Um ano depois, Trump protagoniza uma imagem histórica ao se tornar o primeiro presidente dos EUA no cargo a entrar na Coreia do Norte. Ele deu 20 passos para além da fronteira e apertou as mãos de Kim Jong-Un.

Duelo com imigrantes

Trump declarou guerra aos imigrantes desde o primeiro dia de governo. No primeiros dias no comando da Casa Branca, ele assinou uma ordem executiva barrando a chegada de refugiados nos Estados Unidos por 120 dias, além de proibir viagens de sete países de maioria islâmica para o território americano por 90 dias.

Em 2017, Trump anunciou o encerramento do programa Daca (Deferred Action for Childhood Arrival, ou Ação Diferida para a Chegada na Infância em Português).

Imigrantes se aglomeram em muro que separa México dos Estados Unidos, em Tijuana, México • 08/05/2023 REUTERS/Aimee Melo

O projeto criado por Barack Obama permitia que pessoas que imigraram ilegalmente para os Estados Unidos na infância tivessem mais facilidade para regularizar sua situação no país quando adultos. O objetivo do Daca era proteger da deportação cerca de 800 mil imigrantes que chegaram aos Estados Unidos quando crianças.

O governo republicano também anunciou uma política de “tolerância zero” para imigrantes que cruzassem as fronteiras do país ilegalmente.

As especificações do projeto dizem que indivíduos que violam as leis da imigração serão indiciados criminalmente e avisa que pais podem ser separados de seus filhos.

A separação de pais e filhos foi uma das principais imagens que marcaram o governo de Donald Trump. Mas foi o muro, um projeto mirabolante que previa uma estrutura de aço em toda a fronteira entre os Estados Unidos e o México, que marcou a administração do republicano.

O projeto, que ainda é usado como promessa de Trump em 2024, também gerou críticas da população. Dezembro de 2018 foi marcado pela maior greve parcial na história do governo nos Estados Unidos, após Trump ordenar que legisladores realoquem 5,7 bilhões de dólares para financiar o muro.

Processo de impeachment

No final de 2019, a presidente da Câmara dos Deputados na época, Nancy Pelosi, anunciou o começo de um processo de impeachment contra Trump relacionado ao caso da intervenção russa nas eleições presidenciais.

Em novembro do mesmo ano, a Câmara dos Deputados votou pelo impeachment de Trump, que se tornou o terceiro presidente na história dos Estados Unidos a ser condenado em um processo como este.

Mas o caso não foi para frente, uma vez que o Senado absolveu Trump. O senador Mitt Romney foi o único republicano que votou pela condenação do presidente, juntando-se aos democratas em um placar de 52 votos contra 48 votos.

Uma pandemia em ano de eleição

A pandemia da Covid-19 surpreendeu Trump em um ano de eleição, onde o republicano tentava permanecer no cargo.

Trump observa o especialista em saúde pública Anthony Fauci durante reunião
Trump observa o especialista em saúde pública Anthony Fauci durante reunião na Casa Branca • Foto: Carlos Barria – 29.abr.2020 / Reuters

Uma das primeiras medidas do então presidente foi romper as relações dos Estados Unidos com a Organização Mundial da Saúde, que encabeçou o combate ao vírus em todo o mundo.

Durante esse período, Trump chamou a Covid-19 diversas vezes como um “vírus chinês” e chegou a sugerir que luz solar e injeção de desinfetante eram tratamentos usados para tratar a doença.

“E depois vejo que o desinfetante funciona num minuto, há alguma forma de fazermos alguma coisa com isso, injetando dentro do corpo ou limpando? Seria interessante verificar isso”, disse Trump durante uma coletiva na sala de imprensa da Casa Branca.

“As políticas do Trump em relação à pandemia foram trágicas em um primeiro momento, mas a gente tem que entender que a tragédia que aconteceu nos Estados Unidos não foi apenas pela política Trump. Foi por conta da estruturação de estado em relação à saúde pública”, disse Caneparo.

Nos Estados Unidos os estados têm autonomia para decidir questões importantes como saúde, educação e economia. No caso da pandemia, cada estado determina suas regras para conter o vírus. Os tradicionalmente republicanos, por sua vez, tomaram medidas voltadas para a economia e evitaram impor isolamento social e uso obrigatório de máscaras, por exemplo.

A pandemia também foi um grande fator para as políticas econômicas de Trump.

“Ainda que tenhamos tido problemas na era Trump em termos econômicos, de fato, muitos analistas prospectam que se não tivesse tido a pandemia da Covid-19, os empregos na era Trump teriam sido maiores do que na era Biden”, avalia Caneparo.

A professora acrescenta que o mercado tende a gostar das políticas econômicas de Trump: “O índice Dow Jones na era Trump foi muito bom, então a bolsa de valores teve de fato um crescimento exponencial. Então a gente observa que o mercado gosta da política econômica de Trump. Ainda que nós tenhamos problemas, como por exemplo, inflação que não esteve tão em queda. A questão do PIB não se elevou tanto assim.”

Tudo isso acontece em meio aos protestos pelo assassinato de George Floyd – um homem negro gravado em vídeo dizendo que não conseguia respirar enquanto um policial branco pressionava o joelho em seu pescoço para rendê-lo.

Homem segura uma imagem de George Floyd em uma vigília no segundo aniversário da morte de Floyd, um homem negro que foi morto em 2020 por um policial branco • 25/05/2022 REUTERS/Eric Miller

As manifestações tomaram conta do país e foram duramente reprimidas com gás lacrimogêneo e balas de borracha usadas para dissipar os manifestantes na porta da Casa Branca.

Para Martins, a pandemia, os protestos e a mudança na economia foram cruciais para a derrota de Trump em 2020: “Além disso, o clamor social ligado a George Floyd e o movimento “Vidas Negras Importam” também foram cruciais para mobilizar a base democrata e garantir a derrota de Trump. Foi uma tempestade política perfeita, em termos eleitorais, que favoreceu a oposição naquele momento.”

Eleições de 2020 e invasão do Capitólio

Após o dia das eleições, em 3 de novembro, a CNN projeta o democrata Joe Biden como vitorioso e próximo presidente dos Estados Unidos. Trump não aceitou o resultado e alega fraude nas eleições.

“Nós vencemos as eleições. Não há como termos perdido a Geórgia. Foi uma eleição fraudada. Eu tive duas eleições e venci as duas. Se os democratas liberais tomarem o Senado e a Casa Branca — eles não vão tomar a Casa Branca! Vamos lutar até o inferno”, declarou.

O discurso de fraude se arrasta até hoje durante comícios e debates para as eleições presidenciais de 2024.

Após um discurso de Trump em frente à Casa Branca para uma multidão de manifestantes apoiadores do republicano, estes protagonizaram uma invasão do Capitólio dos Estados Unidos enquanto os integrantes do Congresso estavam reunidos para certificar o resultado dos votos do Colégio Eleitoral e conceder a vitória a Joe Biden. Um total de cinco pessoas morreram, incluindo um oficial da segurança do Capitólio.

Trump questionou a credibilidade dos resultados de 2020 e seus apoiadores invadiram o Capitólio, em Washington, em 6 de janeiro de 2021. • REUTERS

Um dia depois, Donald Trump é obrigado a se retratar por conta da invasão ao Congresso.

P Twitter, agora X, baniu Trump permanentemente da plataforma, explicando que “após uma revisão cuidadosa de tuítes recentes e o contexto que os sondava, decidimos suspender permanentemente a conta devido ao risco de estímulo à violência”.

A medida foi um duro golpe para o ex-presidente, que foi o líder que mais usou a rede social na história dos líderes americanos. Segundo um levantamento da CNN, Trump fez mais de 25 mil posts no Twitter, uma média de 18 tweets por dia, durante a presidência.

Dias antes de deixar o cargo, a Câmara dos Deputados votou pelo impeachment de Trump por “incitação à insurreição”. Ele é o único presidente dos Estados Unidos a ser condenado ao impeachment duas vezes.

Em 20 de janeiro de 2021, Donald Trump encerra seu mandato como o 45º presidente dos Estados Unidos e não comparece à cerimônia de posse do sucessor Joe Biden.



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