O tempo corre ligeiro para quem está imerso ao cotidiano de um adulto comum. Dois anos se vão num piscar de olhos. O cenário só muda quando algo fica para trás, como aquela foto que deixou na eternidade o sorriso de uma garotinha que hoje estaria com seus 4 anos e meio.
Mas, quis a descompensação violenta de duas pessoas que a vida de Sophia Ocampo fosse interrompida aos 2 anos e sete meses. Lá se foram quase dois anos desde o último suspiro da criança, naquele fatídico 26 de janeiro de 2023. O julgamento do caso que chocou Mato Grosso do Sul e ganhou repercussão pelo Brasil, está prestes a começar.
O pai da pequena, Jean Ocampo, resumiu o que sente neste momento.
“Não sei explicar, mas é uma sensação de medo, porque eu sei que vou ter que reviver tudo de novo, mas também sei que é necessário”
Jean Ocampo, pai de Sophia
Na próxima quarta-feira (4) os réus Stephanie de Jesus e Christian Campoçano, mãe e padrasto da vítima, vão a júri popular. Estão previstos dois dias para rememorar a breve história de Sophia e seu triste desfecho.
Os acusados estão presos desdo o dia da morte e, ao longo destes 22 meses, muitas reviravoltas ocorreram nos trâmites processuais. O Primeira Página refresca a memória da população que poderá assistir ao júri nos dias 4 e 5 de dezembro.
Histórico
Em 26 de janeiro de 2023, Stephanie levou a filha já desfalecia à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Coronel Antonino para nunca mais vê-la em pé. Aliás, para nunca mais ver nenhuma das filhas, já que também é mãe da pequena Stella, à época com pouco mais de sete meses. Óbito constatado, ela e o marido foram presos.
O histórico, segundo revelaria meses depois investigação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), era de que a rotina de violência predominava na casa alugada na Vila Nasser, encontrada em total situação de insalubridade depois de todo o ocorrido.
Conforme a ação penal em que são réus, Sophia era agredida com frequência. Tanto que em um dos episódios teve a cabecinha cortada após levar um “cascudo” do padrasto. Tudo mostrado em conversa de WhatsApp, revelada em perícia feita nos aparelhos dos dois.
Em outra ocasião, a criança teve a perninha, mais precisamente a tíbia, fraturada após ser chutada pela mesma pessoa. A informação foi confirmada pelo filho do réu, fruto de relacionamento anterior, um menino de seis anos que morava junto ao casal.
As agressões acenderam sinal de alerta em Jean que, com o marido Igor Andrade, buscou ajuda junto ao Conselho Tutelar na região Norte. Também foram à Defensoria Pública, bem como registrou boletim de ocorrência. A história todo mundo já sabe: não houve ação suficiente para evitar a partida prematura da vítima.
Stephanie e Christian passaram por pelo menos duas audiências de instrução, foram ouvidos na última delas em 5 de dezembro passado. Eles trocaram acusações e um culpa o outro pelo destino da pequena.
Logo após ouvi-los, o juiz Aluízio Pereira dos Santos decidiu que entre os dias 12 e 14 de março de 2024 a dupla iria a júri popular, mas depois de manobra das defesas, o julgamento foi retirado de pauta.
Meses depois os advogados de ambos desistiram quase que simultaneamente dos recursos e retornaram a ação à estaca que estava anteriormente. O magistrado, então, remarcou a júri para a próxima semana.