A internet se tornou um ambiente cada vez mais explorado por criminosos virtuais, especialmente em redes sociais e e-mails. Com o aumento desses ataques, surgiram profissionais especializados na recuperação de contas invadidas e na proteção digital dos usuários. Em outras palavras, a segurança digital virou um verdadeiro negócio.
O hacker sul-mato-grossense Tiago Martinez, formado em TADS (Tecnologia, Análise e Desenvolvimento de Sistemas), recebe, em média, sete mensagens por dia de pessoas desesperadas por terem suas contas invadidas.
Os golpes seguem um padrão: postagens oferecendo investimentos financeiros e vendas de móveis a preços baixos.
“Todos os dias recebo novos casos, e preciso resolver tudo no mesmo dia. Se eu não recuperar as contas invadidas hoje, amanhã já terei mais sete casos, depois mais sete, e assim por diante.”
Tiago Martinez, hacker
Hacker ou cracker? Entenda a diferença
Sim, Tiago é um hacker. Mas, apesar de muitas vítimas dizerem que foram “hackeadas”, quem invadiu suas contas não foi um hacker, e sim um cracker.
Os hackers são especialistas em tecnologia, estudam sistemas, redes e programas para entender seu funcionamento e, muitas vezes, trabalham para protegê-los. Já os crackers são aqueles que invadem sistemas com más intenções, geralmente para roubo de dados e fraudes.
“Infelizmente, na nossa área, existem pessoas que lucram vendendo informações e dados. E o pior é que, muitas vezes, quem deveria proteger essas informações acaba facilitando esse vazamento.”
Tiago Martinez
De acordo com Tiago, o Instagram lidera a lista de redes sociais mais vulneráveis a ataques, seguido pelo e-mail (principalmente o Hotmail), WhatsApp e Facebook.
“O Instagram é disparado o mais visado. Depois vem o e-mail, especialmente o da Microsoft, que está muito vulnerável. Em terceiro lugar, WhatsApp e Facebook, sendo que o Facebook é um alvo mais raro”, explica.
A maioria das vítimas que procuram Tiago utiliza contas do Hotmail. “A Microsoft, responsável pelo Hotmail, sofreu um grande vazamento de dados em julho de 2024. Informações de milhares de usuários foram expostas. Se você é cliente da Microsoft e não trocou sua senha nos últimos seis ou sete meses, está vulnerável”, alerta.
Como se proteger?
Uma das principais formas de aumentar a segurança das contas é ativar a autenticação de dois fatores. Tiago recomenda o uso do aplicativo Microsoft Authenticator (disponível em IOs e Android).
“Com ele, conseguimos autenticação de dois fatores, monitoramos atividades suspeitas na conta e reforçamos a segurança removendo a senha. Afinal, como um criminoso descobriria sua senha, se sua conta não tem uma?”, questiona. Os criminosos não escolhem suas vítimas. Segundo Tiago, qualquer pessoa pode ser alvo.
“Os crackers não se preocupam com idade, gênero ou profissão. O que eles têm são informações de login e senha. O público é totalmente variado, de senhoras a jovens”, explica.
Tiago Martinez
Entre os casos que mais chamaram a atenção do hacker está o de um policial federal de Mato Grosso do Sul, que tinha quase 300 mil seguidores na rede social. O perfil foi invadido e usado para divulgar investimentos falsos.
“Por ser um policial federal, ele passa uma imagem de credibilidade. As pessoas veem que o perfil é verificado, tem engajamento, e acabam acreditando nos golpes. Uma das vítimas transferiu R$ 10 mil para os criminosos”, conta Tiago.
Ele já recuperou contas de usuários de vários estados brasileiros e até do exterior. No total, mais de 600 contas foram restauradas.
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Hacker “hackeado”
Tiago se especializou em segurança digital depois de cair em um golpe. O episódio aconteceu em 2020, durante uma viagem à praia.
“Eu estava hospedado em um hotel e postei um story marcando o local. Como a localização era pública, uma conta falsa viu que eu estava lá e me enviou uma mensagem: ‘Olá, Tiago, aqui é o hotel tal. Gostaria de participar de uma promoção para ganhar duas diárias grátis?’”, relembra.
Sem suspeitar, ele aceitou a suposta oferta e recebeu um link para “confirmar o cadastro”. “Mandaram o link e pediram meu telefone. Achei estranho, mas passei. Um código chegou no meu celular e eu repassei para eles. No mesmo instante, fui desconectado da minha conta”, lembra.
A experiência foi um choque, mas também serviu de aprendizado. “Peguei esse limão e fiz uma limonada. Foi a partir daí que comecei a estudar mais sobre segurança digital”.
Em alguns casos, vítimas de golpes podem processar as empresas responsáveis pelas redes sociais, argumentando que elas deveriam garantir a proteção dos dados.
“Crime na internet é muito comum, mas a legislação brasileira não acompanha a velocidade da tecnologia”, afirma o advogado Marcos Pacheco.
O especialista jurídico cita um exemplo:
“Antes, na famosa ‘saidinha de banco’, um criminoso observava quem sacava dinheiro e roubava a vítima fora da agência. A Justiça passou a entender que o banco era responsável pela segurança do cliente, mesmo fora da agência. O mesmo raciocínio começa a valer para as plataformas digitais. O Instagram, por exemplo, deveria ser responsável, ainda que o usuário tenha passado a senha sem querer”.
Marcos Pacheco, advogado
Dicas para aumentar sua segurança digital
Para evitar que sua conta seja invadida, Tiago Martinez lista 10 dicas essenciais:
1️⃣ Altere suas senhas regularmente.
2️⃣ Evite redes Wi-Fi públicas.
3️⃣ Não baixe arquivos de fontes desconhecidas.
4️⃣ Ative a autenticação de dois fatores (2FA).
5️⃣ Não salve senhas em dispositivos públicos.
6️⃣ Use gerenciadores de senhas.
7️⃣ Mantenha navegadores e aplicativos atualizados.
8️⃣ Nunca compartilhe códigos de segurança com terceiros.
9️⃣ Evite postar sua localização em tempo real.
🔟 Faça backup de seus dados regularmente.
Para ele, há mais duas importante: manter os dados atualizados. Por exemplo, endereço de e-mail secundário para possível recuperação; e sempre verificar se o seu número atual está em seus dados cadastrados.
