Santrosa foi a primeira mulher trans a conquistar uma vaga de suplente na Câmara Municipal de Sinop, a 503 km de Cuiabá. A breve carreira política foi interrompida após ela ser assassinada aos 27 anos. Com requintes de crueldade, seu corpo foi encontrado decapitado em uma região de mata, com pés e mãos amarrados.
A polícia encontrou o corpo nesse domingo (10), mas a família havia identificado o desaparecimento um dia antes. Santrosa era cantora e CEO de uma produtora. Acumulava mais de 17 mil seguidores em suas redes sociais, e nos seus versos dizia que tinha um sonho: “tocar os hits lá do meu interior”.
Na área política, ela defendia pautas voltadas ao acesso à cultura para comunidades de periferias de Sinop, onde morava. Ao Primeira Página, uma das amigas de Santrosa, a Dj Strella, comentou nesta segunda-feira (11) que trocava muitos conhecimentos e dicas sobre a carreira artística com a vítima.
“Ela era muito dedicada a carreira. Prezava pela qualidade e pela igualdade social. A principal pauta dela era poder levar para a comunidade o acesso à cultura, da mesma forma que as população elitizada tem”.
A artista também tinha uma loja de confecção de roupas e investia em eventos e shows gratuitos para a comunidade LGBTQIAPN+.
Em abril deste ano participou do concurso Miss Mato Grosso 2024, representando a cidade de Sinop.
“Tocar os hits lá do meu interior”
Santrosa tinha um canal de vídeos no YouTube com 4,1 mil inscritos onde publicava clipes de músicas interpretadas por ela. Com seu estilo “paredão”, foi conquistando o público.
O primeiro clipe, publicado há 7 anos, é uma versão própria da música “Paradinha” da cantora Anitta, com mais de 20 mil visualizações.
“Santrosa Batidão” foi um dos últimos clipes publicados em seu canal. Gravado no Rio de Janeiro, rendeu mais de 9 mil visualizações. Veja o clipe abaixo:
Dj Strella recorda algumas lutas que Santrosa enfrentou ao longo da sua carreira.
“Recordo muito de um show que ela fez para uma comunidade de Sinop. Foi um megashow com uma estrutura incrível, e ela acabou sendo boicotada. Se não engano, na época, ela buscou recursos e falaram que iriam apoiar. Mas, na hora de pagar, ela teve que arcar com muitas coisas que não estavam planejadas, inclusive com dançarinos que ela trouxe do Rio de Janeiro”.
Família busca por justiça
Os pais de Santrosa, no sepultamento que aconteceu na tarde desta segunda-feira (11), disseram que cobram por justiça. “Era um amor de pessoa. Perdi não sei por qual motivo. Era inocente”, disse o pai, Cristóvão da Rosa.
“Agora só espero justiça. Que a justiça seja feita. Que os culpados paguem pelo que fizeram.” disse a mãe, Nilda Salete dos Santos.
Até o momento, o suspeito do crime ainda não foi localizado. Mas, conforme o delegado Bráulio Junqueira, da DHPP (Delegacia de Homicídios e de Proteção à Pessoa), trata-se de um caso de execução da organização criminosa Comando Vermelho.
Após o crime, equipes de segurança reforçaram o policiamento na cidade, com objetivo de encontrar os suspeitos do assassinato da jovem.
Em nota, a Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso informou que acionou o GECCH (Grupo Estadual de Combates aos Crimes de Homofobia) e que cobrará as autoridades a apuração para revelar os culpados.
Outras mortes por fação
Este é o segundo caso de candidatas mortas por facção em Mato Grosso neste ano.
Rayane Alves Porto, 25 anos, foi torturada e morta em 14 de setembro. Ela também era candidata a vereadora na cidade de Porto Esperidião, a 358 km de Cuiabá.
As investigações da Polícia Civil apontaram que o crime foi encomendado por um detento da PCE (Penitenciária Central do Estado), em Cuiabá. De acordo com o delegado, o criminoso passou as 3h comandando o crime por vídeochamada.
Irmã da vítima, Rithiely Alves também foi assassinada. Ela era digital influencer nas redes sociais. Outros dois rapazes foram torturados mas conseguiram fugir.
A motivação dos assassinatos seria por conta de uma única postagem, na qual os gestos feitos pelas vítimas fariam alusão a uma facção rival.
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