Rebeldes da Síria começaram a planejar o ataque que derrubou Bashar al-Assad há um ano, disse um comandante militar da Hayat Tarir al-Sham (HTS), o principal grupo insurgente da região, ao jornal britânico The Guardian.
De acordo com o comandante Abu Hassan al-Hamwi, a HTS — antiga afiliada da Al Qaeda com sede no noroeste da Síria — se comunicou com rebeldes no sul do país para formar uma frente unificada.
Hamwi afirmou ao Guardian que o “problema fundamental” das forças rebeldes na Síria era “a ausência de liderança unificada e controle sobre o campo de batalha”.
Para combater isso, a HTS começou a pedir que outros grupos se juntassem às suas forças.
“Estudamos o inimigo minuciosamente, analisando suas táticas, tanto de dia quanto de noite, e usamos essas percepções para desenvolver nossas próprias forças”, explicou Hamwi.
Lentamente, os diferentes grupos rebeldes desenvolveram uma doutrina militar unificada e se tornaram uma força homogênea, ainda segundo o comandante.
Uma sala de operações também foi estabelecida no sul da Síria, o que permitiu que comandantes de 25 grupos rebeldes diferentes se reunissem e coordenassem seus movimentos, informou o jornal.
A recém-formada aliança rebelde aproveitou o momento para atacar no final de novembro, enquanto os principais aliados do regime de Assad, Rússia e Irã, estavam focados em seus próprios conflitos.
Menos de duas semanas depois, a capital Damasco foi tomada e Assad fugiu para a Rússia.
Hamwi reconheceu que formar um novo governo é uma tarefa difícil.
“O regime plantou divisão, e estamos tentando, tanto quanto possível, transpor essas divisões”, adicionou.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
Quem é a família de Bashar al-Assad, que governou a Síria por mais de meio século