Se empreender já é um desafio em qualquer fase da vida, abrir um negócio próprio após os 50 anos – período em que muitas pessoas começam a desacelerar – exige ainda mais coragem. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) Contínua, Mato Grosso já contabiliza 119.607 empreendedores com mais de 55 anos.
O número representa mais de 22% do total de negócios ativos, mostrando que a maturidade vem ganhando espaço no mercado.
No cenário nacional, o fenômeno também é expressivo. Um levantamento do Sebrae Nacional mostra que 13,3% das empresas abertas em 2024 foram criadas por empreendedores acima dos 55 anos, o maior patamar dos últimos cinco anos. O dado revela que o Brasil, além de ter se tornado um ambiente mais favorável aos pequenos negócios, está vivendo uma transformação geracional no perfil do empreendedor.
O estudo, realizado em 56 países, revela que o Brasil se tornou um ambiente cada vez mais favorável à abertura de empresas, com destaque para o protagonismo de mulheres e pessoas com mais de 50 anos no mercado.

Entre os principais desafios enfrentados por essa faixa etária estão o acesso ao crédito, a adaptação às novas tecnologias e o preconceito de mercado, que muitas vezes subestima a capacidade inovadora e produtiva dessas mulheres.
Além disso, muitas delas precisam conciliar seus negócios com responsabilidades familiares, como o cuidado com netos e parentes idosos, o que pode limitar sua dedicação ao empreendimento.
Apesar das dificuldades, empreender após os 55 anos também oferece vantagens significativas. A experiência de vida e profissional permite uma gestão mais estratégica e segura, reduzindo riscos e melhorando a tomada de decisões.
Além do grupo com mais de 55 anos, os dados da PNAD Contínua também mostram a distribuição dos empreendedores mato-grossenses nas demais faixas etárias. A maior concentração está entre 35 e 45 anos, que representa 25,11% do total, seguida pela faixa de 25 a 35 anos, com 23,82%, e de 45 a 55 anos, com 21,60%. Já os mais jovens, com até 25 anos, somam apenas 6,85%, o menor percentual entre os grupos.
Mulheres à frente

Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) apontam que, em 2024, 6% das empresas abertas em Mato Grosso foram criadas por mulheres empreendedoras com mais de 54 anos.
Mato Grosso possui 188 mulheres empreendedoras, sendo que houve crescimento de 3% de 2023 para 2024.
Além disso, essas empreendedoras costumam ter maior resiliência e uma rede de contatos consolidada, fatores que favorecem o crescimento dos negócios.
O aumento da expectativa de vida e a necessidade de complementação de renda também impulsionam essa tendência, mostrando que a maturidade pode ser um diferencial competitivo no mercado.
A psicóloga Fabiana Barbosa destaca que a aposentadoria pode ser um período de angústia para muitas pessoas, que sentem que perderam seu papel na sociedade.
“Empreender na terceira idade pode ser uma maneira de manter a mente ativa, estimular a criatividade e fortalecer a autoestima e o senso de propósito. Além disso, o envolvimento com novos desafios e interações sociais pode contribuir para a prevenção de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, além de ajudar no combate ao isolamento social”, explica.

Ana Vasconcelos, que começou a empreender após a aposentadoria e aos 70 anos, é proprietária de um restaurante em Cuiabá. Ela, que já tinha trabalhado em banco por muitos anos, destaca a importância da gestão financeira e de uma equipe bem estruturada para o sucesso do empreendimento.
“As dificuldades de empreender estão ligadas a você montar uma boa equipe, ter muito controle financeiro do negócio e eu acho que toda essa minha história de trabalho no banco me trouxe uma bagagem muito boa em termos de controle, em termos de disciplina financeira e isso aí fez uma diferença também no negócio”, avalia.
O restaurante dela oferece alimentação saudável e acessível.
“Vi, há 19 anos, que faltava um lugar onde quem trabalhasse pudesse se alimentar sem sentir o peso da comida. Hoje, o conceito de ‘confort food’ está em alta, mas naquela época ainda era uma novidade. Estávamos certos, e até hoje o restaurante é sinônimo de comida caseira e confiável”, conta Ana.

Outro exemplo inspirador é o de Áurea Dalcol, que começou a empreender para ajudar a mãe, uma artesã talentosa que não conseguia precificar e vender seus produtos.
Inicialmente, Áurea começou oferecendo as peças para amigos e em feiras. Com o tempo, percebeu que poderia transformar essa atividade em um negócio próprio e hoje possui uma loja física.
“A maior dificuldade para quem tem mais de 50 anos empreender é a falta de tempo para errar. Quem começa a empreender jovem pode quebrar e recomeçar várias vezes. Mas, para nós, o retorno precisa ser rápido, pois muitas vezes estamos empreendendo por necessidade financeira”, explica Áurea.

Apoio do Sebrae
Drieli Sena, gestora estadual de empreendedorismo feminino do Sebrae MT, destaca que muitas mulheres 50+ já são empreendedoras informais, mas não se enxergam como empresárias.
“Muitas fazem bordado, crochê, vendem doces, mas não consideram isso um modelo de negócio. Estamos trabalhando para que elas reconheçam seu potencial e se vejam como empreendedoras de fato”, afirma.
O Sebrae tem ampliado suas ações para atender esse público, com programas voltados para a chamada “economia prateada”, oferecendo cursos, mentorias e suporte para formalização de negócios.
Além disso, a instituição mantém agências e pontos de atendimento em diversas cidades de Mato Grosso, facilitando o acesso às ferramentas necessárias para que mulheres acima de 50 anos possam se consolidar no mercado e garantir seu espaço como empreendedoras de sucesso.
Com histórias inspiradoras como as de Ana Vasconcelos e Áurea Dalcol, fica evidente que empreender na terceira idade não só é possível, mas pode ser uma alternativa valiosa para manter a autonomia financeira e o bem-estar na maturidade.
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