Os republicanos estão atacando a resposta de Tim Walz aos protestos em Minneapolis em 2020, mas na época, o então presidente Donald Trump disse que concordava “totalmente” com a forma como o governador de Minnesota lidou com os tumultos após o assassinato de George Floyd, enfraquecendo uma linha de ataque importante dos republicanos nesta semana, depois que Walz foi nomeado vice-presidente de Kamala Harris para a eleição de 2024.
“Eu concordo totalmente com a forma como ele lidou com isso nos últimos dias”, disse Trump sobre Walz em uma ligação no dia 1º de junho de 2020, na qual ele também descreveu o governador democrata como “um cara excelente”.
A ligação foi liderada por Trump, que foi acompanhado pelo então procurador-geral Bill Barr, o então presidente do Estado-Maior Conjunto Mark Milley e o então secretário de Defesa Mark Esper, e contou com a participação de uma série de governadores, enquanto protestos em todo o país, alguns dos quais evoluíram para tumultos violentos, se espalhavam após a morte de Floyd em 25 de maio.
Detalhes da ligação, na qual Trump implorou aos governadores de todo o país para “dominar” os manifestantes, foram anteriormente relatados, e a CNN publicou a transcrição completa da ligação no dia em que ocorreu, em 2020.
Não é incomum que até os rivais políticos mais amargos ofereçam elogios moderados uns aos outros após desastres naturais ou crises nacionais graves – especialmente aquelas que exigem cooperação entre governos estaduais e federais. No entanto, mais de quatro anos depois, o elogio de Trump a Tim Walz ganha um novo significado à medida que o candidato republicano e seus aliados tentam relembrar aos americanos os protestos nacionais daquele ano, associando Walz às imagens de Minneapolis em chamas e aos danos subsequentes.
“Vocês têm uma grande Guarda Nacional lá fora, pronta para entrar e lutar com força. Eu digo a vocês, o que fizeram em Minneapolis foi incrível. Eles entraram e dominaram. E aconteceu imediatamente”, disse Trump aos governadores. “Tim Walz. Novamente, fiquei muito satisfeito com os últimos dias. Tim, você chamou grandes números e os grandes números derrubaram eles tão rápido que foi como derrubar pinos de boliche.”
A ligação ocorreu uma semana após a morte de Floyd. Na época e nos anos seguintes, os republicanos criticaram publicamente Walz por supostamente ter demorado a convocar a Guarda Nacional de Minnesota.
A campanha de Trump para 2024, ao responder ao pedido da CNN sobre os elogios de 2020 a Walz e os detalhes da ligação, afirmou que ele foi apenas elogioso com o governador de Minnesota, uma vez que, em 1º de junho, Walz “já havia agido”. No entanto, argumentaram que Trump sempre ficou frustrado por Walz não ter tomado mais medidas antes.
Walz ativou a Guarda Nacional pela primeira vez em 28 de maio, três dias após a morte de Floyd, e no mesmo dia em que os manifestantes incendiaram o exterior de uma delegacia de Minneapolis.
“O importante aqui é o timing e o contexto desses comentários. Ele estava elogiando um governador que, finalmente, depois de dias de loucura, tinha feito algo. Então não foi em tempo real. Foi depois que Walz finalmente fez algo a respeito”, disse um assessor sênior da campanha de Trump à CNN.
Um segundo assessor de Trump reiterou o ponto, afirmando à CNN que a ligação ocorreu “no contexto do que o presidente Trump encorajou muitos desses governadores e líderes locais a fazerem, que era finalmente impedir ou fazer algo a respeito desses tumultos. Já haviam se passado sete dias, ou quantos dias fossem, que Minneapolis estava queimando, e o presidente Trump estava essencialmente dizendo: finalmente, pessoal, finalmente, o incêndio, o saque e os tumultos pararam.”
Aliados próximos a Trump ecoaram o sentimento do assessor, destacando o pânico entre os funcionários governamentais na época sobre como conter os tumultos e a urgência de buscar apoio para parar a violência.
Durante a ligação de 2020, Walz também expressou algumas palavras de agradecimento pela resposta da administração Trump, agradecendo a Esper pela “orientação estratégica”. Ele também pediu à administração Trump ajuda com a comunicação sobre o papel das tropas da Guarda Nacional.
Mas, nas horas seguintes ao anúncio de Walz como candidato a vice-presidente dos democratas na segunda-feira (5), os republicanos atacaram seu mandato como governador, com grande parte da crítica se concentrando no momento de sua decisão de convocar a Guarda Nacional do estado. O companheiro de chapa de Trump, o senador de Ohio JD Vance, disse aos repórteres no início desta semana, que Walz “permitiu que os manifestantes queimassem Minneapolis no verão de 2020.”
Walz “ficou de braços cruzados e deixou Minneapolis queimar,” escreveu o governador da Flórida, Ron DeSantis, no X. O governador do Texas, Greg Abbott, ecoou essa acusação. O senador do Arkansas, Tom Cotton, afirmou que Walz “poderia ter interrompido” os tumultos, “se quisesse”, enquanto o braço de pesquisa do Partido Republicano acusou Walz de fugir “como um covarde” enquanto Minneapolis queimava.
Um porta-voz da campanha de Cotton no Senado disse que Walz “deveria ter imediatamente enviado a Guarda Nacional, a polícia estadual e restaurado a ordem em vez de deixar criminosos violentos destruírem uma grande parte da cidade, antes de serem liberados da prisão por Kamala Harris,” aludindo a um tweet que Harris postou em apoio a um fundo de fiança em Minnesota.
“Como Tim Walz admitiu, sua gestão dos tumultos foi um ‘fracasso absoluto’,” disse o porta-voz de Cotton, referindo-se a declarações feitas pelo governador sobre a resposta da cidade aos tumultos. Os porta-vozes de Abbott e DeSantis não responderam imediatamente a um pedido de comentário na tarde de quarta-feira (7).
Mesmo antes de Kamala escolher Walz, Trump criticou o governador sobre o assunto.
“Todo eleitor em Minnesota precisa saber que, quando as gangues violentas de anarquistas, saqueadores e marxistas vieram para queimar Minneapolis há quatro anos … Lembra de mim? Eu não consegui que o seu governador agisse,” disse Trump à plateia em seu comício em St. Cloud, Minnesota, no mês passado, antes de afirmar falsamente que ele, e não Walz, ativou a Guarda Nacional em resposta aos distúrbios.
“Eu enviei a Guarda Nacional para salvar Minneapolis, enquanto Kamala Harris se alinhava com os incendiários e manifestantes e arrecadava dinheiro para soltar os criminosos,” disse Trump.
Walz, que ativou a Guarda Nacional depois que protestos pacíficos haviam evoluído para tumultos, saques e violência, afirmou em 2020 que o fez em resposta a pedidos dos prefeitos de Minneapolis e St. Paul.
Durante a ligação de junho de 2020, Trump disse ter dirigido Walz a convocar a Guarda Nacional, antes de elogiar a forma como os oficiais atuaram.
“Eu disse que vocês têm que usar a Guarda Nacional,” disse Trump, referindo-se a Minneapolis. “Eles não usaram no início, depois usaram, e vou te dizer, é verdade, eu não sei o que era … aqueles caras, no terceiro dia, quarto dia, passaram por aquela situação como se fosse manteiga. Eles passaram direto e desde então não houve mais problemas.”
O governador enfrentou algumas críticas bipartidárias sobre o momento de sua ordem para ativar a Guarda Nacional. O prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, um democrata que estava enfrentando escrutínio devido ao caos em sua cidade, afirmou, em agosto de 2020, que havia pedido verbalmente a Walz na noite de 27 de maio para enviar a Guarda, mas que o governador hesitou. Walz refutou a versão de Frey na época, dizendo que o pedido não constituía uma solicitação oficial, que teria sido feita no dia seguinte. (Qualquer tensão entre os dois parece ter esfriado.)
Alguns dos episódios mais notáveis de violência em Minneapolis, incluindo o saque e a queima de uma delegacia de polícia da cidade, ocorreram na noite de 28 de maio – após Walz já ter ativado uma parte da Guarda. Walz e Trump conversaram no mesmo dia. O governador ativou toda a Guarda Nacional em 30 de maio.
Na ligação de 1º de junho com Walz e outros governadores, Trump pareceu reconhecer que estava satisfeito com a forma como a Guarda estadual respondeu aos protestos: “Ontem e anteontem, em comparação com os primeiros dias, foi simplesmente – nunca vi nada parecido,” disse Trump. Walz respondeu: “Absolutamente.”
“Muitas pessoas não entendem quem é a Guarda Nacional e você precisa ir lá, de uma perspectiva de imagem pública e gestão de crise, e garantir que não seja vista como uma força de ocupação, mas como seus vizinhos, professores, donos de negócios, essas coisas,” disse Walz na ligação.
Trump disse que acreditava que isso era uma boa ideia, embora tenha acrescentado que achava que “as pessoas não teriam se importado com uma força de ocupação.”
“Eu gostaria que eles tivessem uma força de ocupação lá,” acrescentou Trump.
Mais tarde naquele dia, a polícia federal forçaria a remoção de manifestantes pacíficos de um parque fora da Casa Branca, para que Trump pudesse atravessar o parque e posar para uma foto com uma Bíblia do lado de fora da Igreja de St. John’s.
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