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Uma lembrança que incomoda a sociedade


Nos meus anos de jornalismo, vivi muitos casos emblemáticos, momentos que marcaram a história de Mato Grosso do Sul, mas também muitos casos tristes, que expõem o pior do homem e as piores falhas da sociedade.

Hoje, peço licença para relembrar um deles. A morte do menino Kauan.

Kauan foi morto em 2017 (Foto: Reprodução/ TV Morena)

Essa coluna começou em uma conversa, aquelas que te perguntam qual cobertura jornalística mexeu mais com você, sabe?

A história de vida e morte do Kauan chegou à imprensa em 2017. A primeira notícia era que ele estava desaparecido. O menino saiu de casa no dia 25 de junho para jogar bola com os amigos e não voltou mais. O caso foi levado à Depca (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) e aí começou as buscas.

Dias depois, o depoimento de um adolescente deu os primeiros indícios do que realmente aconteceu com o Kauan: na versão da testemunha, ele foi violentado e asfixiado enquanto era estuprado. Depois de morto, foi esquartejado e teve o corpo jogado no rio Anhanduí.

Por dez dias, Corpo de Bombeiros e Polícia Civil procuraram por Kauan nas águas sujas do rio que corta Campo Grande. Sem sucesso.

Paralelo a isso, a investigação buscava provas suficientes para incriminar o homem apontado como assassino da criança: Deivid Almeida Lopes, conhecido na região em que moravam, o Coophavila II, como professor.

devid
Professor foi condenado em 2018 pela morte do menino Kauan, de 9 anos (Foto: TV Morena/Reprodução)

Até aqui, você deve pensar que esse caso marcou pela forma brutal como Kauan foi morto. Mas não é só por isso, mas pelo contexto.

Quanto mais se descobria sobre o crime, mais ficava evidente o universo de vulnerabilidade que as crianças da região viviam.

O depoimento do adolescente que contou sobre a morte do amigo, eu li. Ainda lembro da dor que senti em cada palavra, o jeito chulo com que ele relatava crimes, que para ele, eram normais.

O professor, como chamavam Devid, era um homem que atraía meninos do bairro com dinheiro – valores bem baixos, de R$ 5 a R$ 15 – e os molestava. A casa vivia cheia de crianças. Lá, elas assistiam pornografia e eram expostas à violência sem sequer se dar conta.

Tudo que acontecia naquele local era de conhecimento dos jovens do bairro, mas era algo tão normal, tão banal para eles, que por vezes, eles escolhiam ir até lá em busca de dinheiro. Kauan foi atraído assim. Apesar da pouca idade, ele já cuidava de carros na feira da região para ganhar um trocado e foi avisado sobre Devid por quem já ia lá.

No dia em que foi morto, não estava sozinho, era raro as vítimas estarem, aliás. Quatro adolescentes, com idades entre 14 e 15 anos, viram tudo e foram forçados a participar do crime, do início ao fim. Foi o depoimento deles que levou à prisão de Devid.

O professor mesmo sempre negou tudo.

Exames periciais foram feitos na casa do acusado para provar que ele mentia. A polícia encontrou vestígios de sangue desgastados, bem lavados mesmo, no carro e em um dos cômodos, talvez onde o menino foi esquartejado. A equipe tentou colher o DNA de Kauan para comprovar que ali ele foi morto, mas aí a vulnerabilidade social da família do menino foi o vilão.

Kauan, filho de uma família numerosa, não tinha sequer uma escova de dente só sua. Ele dividia com os irmãos e, por isso, não tinha como encontrar só o que DNA ali.

Mesmo com toda a dificuldade. Mesmo sem o corpo de Kauan ter sido encontrado. Devid foi condenado. Contra ele pesavam as acusações de exploração sexual contra outros jovens da região e o depoimento dos adolescentes que viram e viveram o crime.

A pena pela morte e por outros crimes sexuais cometidos por ele ultrapassou 66 anos de prisão em regime fechado. Devid ainda cumpre a sentença no Instituto Penal de Campo Grande.

O que faz a morte de Kauan ainda ser uma ferida aberta, assim como o caso da pequena Sophia (morta anos depois pelo padrasto), é que ela podia ter sido evitada.

Se alguém tivesse olhado para aqueles meninos, se tivessem denunciado Devid à polícia antes, se a sociedade se importasse um pouco mais, se olhasse um pouco mais, Kauan ainda soltaria pipa e jogaria bola no campinho do Coophavila II e outros meninos aliciados pelo “professor” não teriam banalizado a violência sexual que sofriam quase que diariamente.

Quando uma criança morre assim, todo mundo perde. A família sofre com a saudade e nós, como sociedade, com o peso da falha com quem deveríamos ajudar a proteger.

  1. Nova audiência do Caso Sophia apura anos de tortura e maus-tratos

  2. Defesas de condenados pela morte de Sophia Ocampo deixam caso



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