Em 1969, aos 51 anos, um dos gênios da música brasileira, Jacob do Bandolim, morria de infarto, nos braços da esposa no Rio de Janeiro. Ele é pai do compositor da música que vamos falar.

Jacob do Bandolim teve dois filhos: a dentista Elena Bittencourt, a xodó do pai, e o jornalista Sergio Bittencourt, que se tornou um rival do próprio pai.

O menino Sergio nasceu hemofílico e, por conta disso, era superprotegido pelos pais. Essa superproteção forjou nele um caráter arrogante, inseguro e recalcado. Ele não cumpria ordens e não sabia perder.
Todas essas características construíram uma relação complicada com o pai, que era muito intolerante, exigente, mau-humorado e, principalmente, vaidoso. E foi a vaidade que levou a relação de pai e filho para um lugar onde eles nem se falavam mais.
Cada um só saía do quarto quando o outro não estivesse em casa. Um só se sentava à mesa quando o outro já tivesse saído.
Isso aconteceu porque o Sergio, filho dele, começou a dar certo como compositor e o pai não admitia que dentro da própria casa tivesse alguém mais talentoso do que ele.
Jacob do Bandolim não gostava de ser conhecido como o pai de Sergio Bittencourt.
Mesmo assim, o pai, Jacob do Bandolim, era a maior paixão da vida desse filho. O maior ídolo do Sergio era o pai, Jacob do Bandolim, e ele deixava isso claro para todos os amigos dele.
Quando Jacob do Bandolim morreu, ele e o filho não se falavam mais.
Como surgiu a uma das músicas mais tristes da música brasileira
Algum tempo depois da morte do pai, o Sergio foi sair um pouco com um amigo na noite de Copacabana. Ele não falava nunca sobre a morte do pai. Não queria tocar no assunto e o amigo respeitava esse silêncio.
Nesse dia, os dois foram embora e, quando o amigo chegou em casa, o telefone estava tocando sem parar. Ele atendeu e era o Sérgio, falando assim:
“Escuta e vê se você gosta”
Em seguida, Sérgio cantou ao telefone:
“Naquela mesa ele sentava sempre
e me dizia sempre o que é viver melhor”
Sergio fez “Naquela Mesa” no caminho de volta para casa, de Copacabana até o Leblon, em menos de meia hora.
Sergio confessava na letra a admiração profunda que tinha pelo pai, apesar da relação conturbada.
“E nos seus olhos era tanto brilho
que mais que seu filho
eu fiquei seu fã”
E que mesmo sem falar com o pai há muito tempo, a ausência dele na vida estava sendo muito dolorosa.
“Se eu soubesse o quanto dói a vida
essa dor tão doída não doía assim“
Apesar das brigas, da indiferença e da rivalidade, o pai que ele tinha nunca mais estaria ali.
“Naquela mesa tá faltando ele
e a saudade dele tá doendo em mim”
Depois que o Sérgio terminou de tocar a música para o amigo dele no telefone, ele falou assim:
“O velho vai ficar puto da vida lá em cima, mas eu vou ganhar dinheiro à custa dele”
Naquela Mesa se tornou um dos maiores clássicos da música popular brasileira e um sucesso de vendas.
A voz de Sérgio não saiu ao lembrar do pai
Em uma das versões dela, o Sergio Bittencourt canta junto com a Elizeth Cardoso e, no final, não consegue cantar o último verso porque se emociona ao lembrar do pai.
O amigo que ouviu Naquela Mesa pela primeira vez foi o sócio e melhor amigo dele, Paulo Roberto de Oliveira, que escreveu um livro sobre a vida do Sérgio chamado “Tá faltando ele: lembrando Sérgio Bittencourt”.
A essa altura, Sérgio Bittencourt e Jacob do Bandolim já devem ter se reconciliado depois de uma declaração de amor dessas.
A versão mais conhecida de “Naquela Mesa” é cantada por Nelson Gonçalves:
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