A droga K9, conhecida como “droga zumbi”, vem preocupando usuários, profissionais de saúde e autoridades em Mato Grosso. Apesar de a Secretaria de Estado de Segurança Pública afirmar que não há registros oficiais de apreensões no estado, relatos indicam que a substância sintética já circula nas ruas de Cuiabá e região.
Relatos de usuários
Uma mulher de 27 anos, que preferiu não se identificar, compartilhou sua experiência ao chegar a uma casa de recuperação após sofrer convulsões provocadas pelo uso de maconha e cocaína.
“Eu comecei com 19 anos, perdi minhas duas filhas, a guarda delas, passei por dois processos. Os médicos acharam que eu não tinha mais jeito. Perdi tudo o que eu amava, e as drogas pareciam ter todo o amor que eu sentia pelas pessoas e pela minha família”.
Outro usuário, que lutou contra o vício por 14 anos, relatou as consequências físicas do uso. Mesmo apresentando tremores, ele deixou de usar, mas relembra a jornada.
“Comecei com bebida, cocaína, e depois conheci a pasta base. Uma vez, usei algo que parecia misturado com K9. Fiquei muito estranho. Acho que foi essa substância”.
Outra vítima confirma a presença da droga em Cuiabá. “Usei K9 uma vez, enganada, achando que era maconha. Tem muita gente usando aqui em Mato Grosso”.
O que é a droga K9?
A K9 é uma maconha sintética, desenvolvida originalmente em laboratórios para fins medicinais, mas abandonada devido aos efeitos colaterais severos. O psiquiatra Gleisson Libardi explica a potência da substância. “Ela é cem ou duzentas vezes mais potente que a maconha natural. Apesar de criada para pesquisas, acabou nas ruas, virando a droga K, com efeitos devastadores”.
Segundo Libardi, o uso contínuo da K9 pode causar danos cerebrais irreversíveis, afetando cognição e equilíbrio emocional.
“A primeira etapa para sair desse ciclo é a consciência. A pessoa precisa entender que aquele hábito traz prejuízos e buscar ajuda”.
Centros terapêuticos e preocupação crescente
Celina Gonçalves, responsável por dois centros terapêuticos em Várzea Grande, confirmou a alta presença da K9 entre os pacientes atendidos.
“Recebemos relatos de pessoas que usaram a maconha sintética misturada com outras substâncias perigosas.”
Operação contra o tráfico
Na última sexta-feira (7), a Polícia Civil de Mato Grosso deflagrou a Operação Sintétics, com 52 ordens judiciais contra uma associação criminosa que comercializa drogas sintéticas em Cuiabá, Cáceres e Natal (RN). A ação resultou na prisão de quatro pessoas e na determinação de tornozeleiras eletrônicas para outros 13 suspeitos.
A operação começou após a prisão de um casal que vendia drogas sintéticas em festas e no meio universitário. Segundo a Politec, a análise dessas substâncias pode ser feita com equipamentos específicos, como o cromatógrafo gasoso acoplado à espectrometria de massas, possibilitando identificar a composição química da K9.
A circulação silenciosa dessa droga devastadora e os efeitos irreversíveis preocupam as autoridades e escancaram os desafios do combate às drogas sintéticas no estado.