Até aqui, Donald Trump evitou, para dizer o mínimo, colocar mais lenha no incêndio político criado com o atentado que quase o matou no último sábado (13) enquanto o presidente Joe Biden se dirigia ao país pedindo que as pessoas baixem a temperatura. Seria como pedir para ter menos calor na beiradinha da cratera de um vulcão.
O que a maior potência do mundo vive não é apenas o tumulto político causado por uma tentativa de assassinato. Os Estados Unidos já viveram isso antes, e não faz tanto tempo assim. A grande diferença é o grau de cisão, desacordo, polarização, diferenças sociais – em resumo, de rachadura, fratura, que está separando em pedaços irreconciliáveis uma sociedade que já teve um grande espírito de comunidade. Sua grande força, aliás.
Nesse sentido, o que está em erupção são fatores sociais e culturais de maior abrangência. E que têm um retrato três por quatro exatamente no homem escolhido por Trump hoje para ser seu vice-presidente na chapa das eleições em novembro. O senador James David Vance, de apenas 39 anos, virou celebridade contando a própria história. Que não é a velha história do menino pobre que venceu na vida, mas a de como valores culturais – principalmente trabalho e família – é o que explica superação do desespero, ou pobreza e miséria moral.
Vance é uma espécie de personificação de como eleitorados muito diversos entre si – negros, latinos, imigrantes, trabalhadores sem qualificação – encontraram na figura de Trump uma espécie de “retribuição” contra elites pelas quais se sentiram abandonados e desprezados. Essa profunda rachadura está produzindo uma verdadeira convulsão social que ameaça a própria integridade dos Estados Unidos e seu sistema político, tal como aprendemos a conhecê-lo. É muito mais que está em jogo, além de uma eleição.
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