Não foi uma surpresa a desistência de Joe Biden de tentar a reeleição. Mas é surpreendente a rapidez com que o Partido Democrata se articula para apoiar a candidatura de Kamala Harris.
A julgar pelo atual estágio do drama eleitoral americano, ela já está ungida como a adversária do até aqui favorito Donald Trump.
A pergunta óbvia é sobre as chances dela. Neste momento, não existe uma resposta categórica, tipo sim ou não.
Mas cabe perguntar também que chances têm as eleições de resolver a profunda crise política nos Estados Unidos. Nenhuma, pois cada lado vê uma vitória do outro como um perigo existencial.
American dream? Sonho americano? Isso é coisa completamente diferente dependendo do lado com o qual se conversa.
Deveria ser tolerado no país aquilo que a esquerda considera racismo, misoginia e xenofobia? Deveria ser tolerado no país aquilo que a direita considera ser perseguição da religião, perversão sexual e assassinato de fetos?
Não existe hoje na política americana nenhuma ponte que reconheça os receios legítimos do outro lado e busque uma acomodação pragmática. Nem se conseguiu uma visão de futuro que sirva para os dois lados como definição do que é liberdade, autoridade e democracia.
Ao contrário, cada um considera o outro um perigo mortal para a sobrevivência da própria democracia. Hoje vista de forma diferente, e irreconciliável, por cada lado.
A democracia liberal americana já enfrentou muitos testes e grandes crises. Já foi dada como morta e provou sua resiliência. Mas o teste a que está submetida agora não tem precedentes nas últimas gerações.
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