O que Trump acaba de fazer com a Ucrânia é transformar alguém em cego no meio de um tiroteio.
Os americanos suspenderam o envio para a Ucrânia de inteligência militar em tempo real, depois de terem suspendido o envio de armas e munições. Ou seja, no meio dos ferozes combates com as tropas de invasão russas, os americanos tornam mais difícil aos ucranianos defender o próprio país de uma agressão brutal.
Trump não dá a menor bola para isso, mas há algo nas relações internacionais que se chama postura moral — que ajuda a explicar como os Estados Unidos e seus aliados derrotaram a União Soviética na última Guerra Fria.
Trump procede de maneira a deixar evidente que potências menores não têm outra opção senão obedecer o que os fortes mandam. Tanto faz se fazem parte de um sistema de alianças liderado pelos Estados Unidos — e que o próprio Trump está destruindo com enorme rapidez.
Em boa medida, o atual presidente americano é sintoma e não causa de uma sociedade que se partiu ao meio, perdeu a noção da própria excepcionalidade e hoje não se põe de acordo sequer sobre o que seja ser americano.
As consequências que já se detectam são perigosas para o próprio país que ele pretende retornar a uma grandeza que considera perdida. E cuja “restauração” — leia-se atender à base vociferante do Make America Great Again — vale qualquer preço a ser pago, inclusive agradando a quem o considera o inimigo principal, a Rússia.
Azar dos ucranianos, que não conseguiram entender nada disso. E se encontram na situação de terem de capitular — salvo um milagre europeu, capitular a Trump e Putin.