Yago luta para andar pela 1ª vez, 7 anos após ser gerado no ventre da mãe morta


O pequeno Yago Souza Sodré tem apenas 7 anos, mas batalha pela vida antes mesmo de vir ao mundo. Em 2017, o menino foi o protagonista de um caso até então inédito em Mato Grosso do Sul.

Yago Souza Sodré. (Foto: Arquivo Pessoal)

Yago nasceu com 27 semanas, filho de Renata Souza Sodré, de 22 anos, que teve morte cerebral no dia 30 de janeiro de 2017, mas foi mantida “viva”, ligada a aparelhos, por mais 61 dias até dar à luz. A cesariana foi feita às pressas depois que ela parou de reagir ao tratamento.

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O nascimento foi o primeiro desafio vencido por Yago, mas a luta do menino por qualidade de vida continua. Uma cirurgia no quadril é a esperança de que ele ande pela primeira vez, 7 anos depois de ser gerado no ventre da mãe morta.

A espera pelo procedimento dura mais de um ano. Há três anos, Yago também espera que o pai, Eduardo de Noronha, volte para casa. Ele está preso por tráfico de drogas. Enquanto isso, quem se dedica integralmente a Yago é a avó dele, a dona de casa Adriana de Souza Avalos, mãe de Renata.

A saga de Yago e Renata

Ser mãe era o sonho de Renata. Yago foi o nome escolhido por ela antes mesmo de saber o sexo da criança. Em 27 de janeiro de 2017, os planos da mãe se foram em instantes. Renata passou mal em casa, teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e foi parar na Santa Casa de Campo Grande.

Três dias depois, ela teve morte cerebral. O início do luto da família veio acompanhado de uma surpresa: Yago estava vivo e poderia continuar, caso a mãe fosse mantida ligada a aparelhos e sendo medicada. Foi o 1º caso na medicina sul-mato-grossense e o 3º no país até aquele momento.

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Renata, mãe de Yago, faleceu aos 22 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Eduardo e Adriana não pensaram duas vezes e decidiram apostar na última tentativa para realizar o sonho de Renata. Deu certo. Mas Yago nasceu com paralisia cerebral e síndrome de West, um tipo de epilepsia rara, além de uma má formação severa no quadril, que o impossibilita de andar normalmente. Mas, conforme os anos vão passando, a vontade do neto de ter o mínimo de independência só aumenta, conta a avó.

“Ele é louco pra andar, ele não consegue nem ficar em pé, porque o quadril ‘sai fora do lugar’”, desabafa. Adriana explica que a equipe multidisciplinar que acompanha o garoto pelo SUS (Sistema Único de Saúde), desde o nascimento, recomendou uma cirurgia que pode dar mais mobilidade ao garoto.

A avó conseguiu todo o encaminhamento médico para Yago ser submetido ao procedimento há mais de um ano.

Ainda em julho de 2023, um médico cardiologista atestou o “baixo risco cirúrgico” para o procedimento de Yago e indicou uma avaliação neurológica pediátrica no pré-operatório. No mês seguinte, Yago também teve o aval de um anestesista.

Um novo chamado médico, no entanto, só ocorreu em 2024, quase um ano depois do último atendimento, quando os pareceres já haviam perdido a validade, conta a avó.

“Eu esperei por quase um ano e, quando cheguei lá, o médico disse que os exames já não valiam mais. Que eu tinha que correr atrás de tudo novamente”, se queixa.

Procurado pela reportagem, o HU argumentou que o atraso na cirurgia não “se deve à fila de espera”, apesar de admitir que ela é “longa”.

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Yago só consegue parar em pé com o apoio da avó. (Foto: Arquivo Pessoal)

Com a cirurgia impossibilitada, um retorno de Yago ao hospital foi marcado para dezembro de 2024, quinze meses após o primeiro parecer favorável ao procedimento. Mas Adriana se confundiu com a data e perdeu a consulta.

O Hospital Universitário confirmou que o menino terá de passar por nova avaliação de risco cirúrgico emitida por cardiologista e por um pneumologista, antes da cirurgia. (Leia a nota na íntegra no final da matéria).

As avaliações são imprescindíveis diante do quadro extremamente delicado de Yago. A demora para cumprir todo o protocolo médico, contudo, agrava a saga do menino.

As provações não param por aí

Enquanto cuida da saúde do neto, Adriana tenta equilibrar as contas de casa. Com a prisão do pai de Yago, há três anos, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) suspendeu o pagamento da pensão pela morte de Renata, que era transferido à criança, mas estava no nome de Eduardo.

Desde então, a avó tenta provar que o valor equivalente a um salário mínimo (R$ 1.518,00) de benefício era gasto com o garoto. O próprio Eduardo teria manifestado abrir mão da pensão para que ela fosse transferida para Adriana, comenta a avó.

No último dia 14 de janeiro, enfim, a Justiça Federal deu parecer parcialmente favorável ao garoto. O juiz Guilherme Vicente Lopes Leites, da 4ª Vara Federal de Campo Grande, determinou que o valor da pensão pela morte de Renata seja dividido igualmente entre pai e filho.

Leites também mandou que o INSS pague as parcelas do benefício a que Yago tem direito e que estão atrasadas desde agosto de 2021, com os devidos acréscimos e correções.

O cálculo dessas parcelas deve seguir as orientações do Manual de Cálculos da Justiça Federal, que é atualizado periodicamente, como garantia de que os cálculos sejam feitos de forma justa e correta.

“A situação dos autos enquadra-se perfeitamente na previsão legal que determina o rateio da pensão por morte quando houver mais de um dependente da mesma classe. O art. 77 da Lei nº 8.213/91 é expresso ao estabelecer que ‘a pensão por morte, havendo mais de um pensionista, será rateada entre todos em partes iguais.’”

Juiz Guilherme Vicente Lopes Leites, da 4ª Vara Federal de Campo Grande.

A decisão cabe recurso, mas o INSS ainda não se manifestou sobre a determinação da Justiça Federal. O Primeira Página cobrou, via assessoria de imprensa, um posicionamento da autarquia, questionou quando o pagamento do benefício será retomado, mas ainda não obteve retorno. O espaço segue aberto.

Não está fácil, mas a vida continua

Yago continua lutando para manter a vida que herdou da mãe, graças ao apoio da heroína inseparável. Adriana sabe que precisa honrar o sacrifício da filha e faz isso com orgulho, de cabeça erguida, enquanto lida com a sucessão de obstáculos impostos pelo destino. Mas ela também precisa de ajuda.

Sem poder trabalhar fora de casa, já que tem que se dedicar integralmente ao neto, Adriana depende de programas assistenciais do Governo Federal e de doações.

No próximo dia 8 de fevereiro, também acontece um bobó solidário em prol de Yago. O bobó será servido a partir das 11h na Rua Esmeraldo Serra, 290, no Vivendas do Bosque. O prato vai custar apenas R$ 18,00.

Doações em dinheiro são bem-vindas. Se puder ajudar, é só entrar em contato com Adriana através do WhatsApp (67) 99296-3387.

Nota do Hospital Universitário

“Em relação ao questionamento sobre o paciente Yago Souza Sodré de Noronha, informamos que a realização da cirurgia depende da apresentação do risco cirúrgico emitido pelo cardiologista e pelo pneumologista. Até o momento, esses documentos não foram apresentados por parte do paciente. Ressaltamos que a última consulta do paciente com o ortopedista, especialidade responsável pelo tratamento do quadril, ocorreu em junho de 2023. Além disso, foram agendadas consultas nas especialidades de Pediatria e Gastroenterologia no Humap-UFMS para o dia 13/12/2024, porém, o paciente não compareceu. Sem os exames e laudos necessários, não é possível realizar a cirurgia.”



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