A ordem mundial enfrenta desafios significativos, marcados por uma crescente fragmentação e tensões civilizatórias, segundo análise do professor Leonardo Trevisan, especialista em Relações Internacionais da ESPM. Em entrevista ao WW Especial, que vai ao ar neste domingo (9), às 22h. Trevisan traçou um panorama das complexidades geopolíticas atuais, destacando como eventos históricos recentes têm moldado o cenário internacional.
O professor ressaltou que, após a queda do Muro de Berlim, havia uma expectativa generalizada de que os conflitos globais estariam resolvidos, uma ideia que foi rapidamente desafiada. “Se alguém me dissesse uma coisa dessa antes disso, eu ia dar uma risadinha e dizer desculpe, isso nunca vai acontecer”, comentou Trevisan, referindo-se à noção de “fim da história” que prevaleceu brevemente.
O impacto do 11 de Setembro
Os ataques de 11 de setembro de 2001 são apontados como um ponto de virada crucial. Trevisan enfatizou: “Não são só as torres de Nova York que são atacadas. O Pentágono foi alcançado, morrendo mais de 700 pessoas naquele dia no Pentágono”. Este evento não apenas abalou a percepção de invulnerabilidade dos Estados Unidos, mas também desencadeou uma série de reações que contribuíram para a fragmentação global.
A fragmentação mencionada por Trevisan tem raízes profundas e implicações amplas. “Há uma fragmentação no mundo. Eu concordo com a ideia central de que há atitudes nacionalistas. O nacionalismo talvez seja um processo exatamente dessa fragmentação”, explicou o professor. Esta divisão, segundo ele, não se limita apenas a linhas políticas, mas também engloba aspectos culturais e civilizatórios.
O desafio da China e as tensões globais
Um aspecto crucial da análise de Trevisan é o papel da China como uma “potência desafiante” que se aproveita do cenário de fragmentação global. “Em cima desse quadro, nós temos uma situação que é mais grave, que é de certa forma uma potência desafiante se aproveitando dessa fragmentação”, alertou o professor.
Trevisan também chamou a atenção para o desconhecimento ocidental sobre outras culturas, particularmente o mundo islâmico. “Nós não conhecemos Oriente Islâmico”, afirmou, destacando a complexidade das divisões religiosas e políticas nessa região. Este desconhecimento, segundo ele, contribui para a perpetuação de conflitos e mal-entendidos em escala global.
O professor sugere que o atual cenário mundial pode ser melhor compreendido através da lente do “Choque de Civilizações”, teoria formulada originalmente em 1993 pelo cientista político Samuel P. Huntington. “Eu acho que nós temos aí um mundo que vive um outro tipo de conflito que talvez a resposta de Huntington seja algo que sirva para começar a explicar”, pontuou Trevisan, indicando a necessidade de novas abordagens para compreender os desafios geopolíticos contemporâneos.