O coordenador do grupo de Estratégia Internacional da USP, Alberto Pfeifer, afirma que Donald Trump está retornando aos conceitos tradicionais de território e população em sua visão política. Segundo o analista, essa abordagem remete a uma perspectiva “neovestfaliana”, em referência à Paz de Vestfália, que pôs fim à guerra dos 30 anos durante o império Romano-Germânico no século 17 e inaugurou conceitos modernos de soberania e de Estado-nação.
Pfeifer explica que Trump enfatiza a ideia de “América primeiro”, reforçando noções de identidade nacional e destino manifesto. “Ele volta para isso, o nível de sofisticação dele vai aí”, observa o especialista, destacando a simplicidade da visão de Trump sobre as relações internacionais.
Competição global e desafios à hegemonia americana
O analista destaca que o mundo atual é caracterizado por uma competição entre potências, com a China emergindo como principal desafiante à hegemonia dos Estados Unidos, especialmente no campo tecnológico. A Rússia, por sua vez, é descrita como um “disruptor” que busca organizar seu “exterior próximo”.
Pfeifer também aponta mudanças na Europa, que estaria abandonando gradualmente a ideia de uma união supranacional em favor de identidades nacionais mais fortes. “A Europa não encontra o seu pé, mas é também hoje cada vez mais ‘neovestfaliana’ ou nacionalista”, analisa.
A visão de Trump sobre a ordem mundial
De acordo com Pfeifer, Trump não parece disposto a ceder espaço a outras potências no cenário global. O que o republicano aceita, sugere o analista, é uma espécie de “condomínio” internacional, onde cada potência controla sua área de influência imediata.
“A Rússia controla o seu exterior próximo e eu não vou me meter muito lá. A China controla o seu exterior próximo”, exemplifica Pfeifer, mencionando a questão de Taiwan como um possível reflexo dessa abordagem. Nesse cenário, os Estados Unidos manteriam o controle sobre o Ocidente, desde que as outras potências não interfiram em sua área de interesse primordial.